segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

CAUSOS DE ADVOGADO: ALVO FÁCIL



POR GUSTAVO DE MAGALHÃES

Minha infância foi maravilhosa, mesmo gordinho, cheio de apelido, e podem acreditar, na época não existia o tal debullying, quer dizer, não sabíamos o que era então eu não senti muitos traumas ou pelo menos, como também não era moda fazer terapia, não entendi se haviam resquícios na minha formação do quanto eu ouvi e fui judiado pelas outras crianças magrelas.  Leia na íntegra.

Todo mundo acha que todos os gordinhos são boa praça, risonhos, felizes, como se comer resolvesse todos os problemas do cidadão e por isso não temos nossas deprês. É até uma frase pronta, “eu não conheço um gordinho triste…”.

Vai aprofundar isso, ou melhor, vai saber se nas profundezas da alma do fofinho, rolha de poço, botijão, Moby Dick, baleia, barrão, e outros belos adjetivos, não ficam marcas pelos apelidos, pelas bullyingnadas. Mas isso sirva apenas de um bom toque, aos que não são gordos (hoje quase minoria…): cuidado, podem estar criando um monstro (pelo menos um como eu, que transforma tudo em motivo de boas risadas).

Mas como eu iniciei dizendo, minha infância foi maravilhosa. Vivia na rua, jogava bola, mesmo tendo feito apenas um gol na vida (que dia marcante, um golaço até!).

Na minha época de criança podia brincar na rua até mais tarde, até a noite, e tínhamos algo que hoje é raro: vizinhos!

Não sou muito saudosista, e nos meus causos vocês não vão ler que esteja reclamando dos dias de hoje ou achando que bom era antigamente. Para que ficar suado, fedendo a mico, se eu posso hoje ficar no sofá jogando game, não é? Para quer brincar de garrafão e arriscado de apanhar (quem não souber do que se trata, procure um adulto de no mínimo quarenta anos), se as crianças podem ficar o dia inteiro no celular, conversando com o dedo?

Alem do que, as brincadeiras hoje são seguras, podem no máximo dar uma LER DORT ou mesmo uma inflamação no carpo, punho, algo assim. Antigamente arrancava-se a ponta do dedo jogando bola no chão de paralelepípedo, ralando o joelho caindo de bicicleta, mas estamos vivos, diga-se de passagem. Deve ter sido porque alimento parte da dieta de criança da minha época era beliscar as perebas das quedas.

Mas como viviam me malhando (entendam, não era eu malhando), era muito bom quando era chamado ou lembrando pelas outras crianças para participar dos eventos. Sim, porque somente fiz aquele gol porque eu era o dono da bola, e andar de bicicleta, precisava de duas, que eu tinha para (comprar) ter amigos para pedalar junto.

Naquele dia em particular foi muito bom, senão fosse o final, pois tinha sido chamado para uma briga de bairros! Poxa que legal, pois os meninos da Rua Castro Alves iam brigar com os do Mata Calado, e eu fui chamado para fazer parte da gang, ou sei lá, do time.

Na hora marcada, depois do sitio do Pica Pau Amarelo, com cheiro de manteiga e café na boca, todos se reuniram embaixo da amendoeira, que era minha porta, por sinal. Eu brilhando nesse dia, então.

Seria somente uma ida a esquina, e sabe-se lá o que aconteceria. Porrada, ou uns garotos correndo de um lado para o outro, mas já era de longe a sensação melhor que tive naquele ano, afinal, eu estava ali na linha de frente pronto para bater em uns magrelas, e quem sabe esmagar ele no chão!

Prontos para o combate que seria ali na esquina partimos uns dez garotos, e eu puxando a fila, numa valentia doida, já vendo nossos oponentes mais na frente, uns fracotes, seria fácil.

Aproximando mais deles, vejo como se fosse câmera lenta, um tampinha, cabelo sarará, cuja imagem não sai da minha cabeça até hoje, se abaixando, e nossa turma se aproximando; vejo-oele pegar algo no chão, e nos, mais perto ainda, e vejo quando ele faz um movimento em arco, e nossa turma a poucos metros, e começo a acompanhar o movimento do objeto que ele arremessa, sólido, pedregoso, subindo, tomando velocidade, caindo, e catapum! Acertou a minha testa, abrindo um corte e fazendo descer o melado (sangue), que para mim, o gordinho mimado da rua, era a morte instantânea e certa!

Suspenso o evento, me mando para casa correndo, chorando com a cara toda melada, e entro em casa já sob os cuidados de minha mãe, me dengando (seria por isso então).

De uma forma diferente então, aquele dia foi marcante para mim, como o dia que eu levei uma pedrada em nome da defesa de minha rua, sendo alvo fácil para aquele tampinha, magrelinho, sarará, miserável! (gustavodemagalhaes@hotmail.com, whatsapp 77-99198-2859)

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