segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

SÉTIMA ARTE EM DESTAQUE: OPERAÇÃO BIG-HERO



POR GABRIEL JOSÉ
Estudante de Cinema da UESB

A princípio, a HQ “Big Hero6″ pode parecer uma escolha estranha para a primeira parceria entre a Disney AnimationStudios e sua companhia irmã, a Marvel Comics, por ser uma série obscura e pouquíssimo conhecida. No entanto, justamente por isso, serviu como uma luva para testar como o ritmo dos quadrinhos da Casa das Idéias funcionaria em uma animação do estúdio do Mickey, dando uma maior liberdade para os cineastas trabalharem com os conceitos da obra original sem a pressão dos fanboys.

O resultado é este “Operação Big Hero”, um longa ágil e colorido, que combina o melhor dos dois mundos em uma divertida e sem compromissos, embora longe de perfeita. Ambientada na cidade de San Fransokyo, uma mistura das cidades de San Francisco e Tóquio, a história segue o jovem inventor Hiro, um adolescente genial, mas sem muita disciplina, mais interessado nas ilegais (e lucrativas) lutas de robôs que em desenvolver seus dons.


Após a trágica morte de Takashi, seu irmão mais velho (e figura paterna), Hiro “herda” dele Baymax, um robô médico. Ao descobrir que um perigoso vilão roubou uma de suas invenções e pode estar envolvido na morte de Takashi, Hiro reprograma Baymax para ajudá-lo a pegar o vilão, contando ainda com o apoio dos antigos colegas de seu falecido irmão nesta aventura.


Hiro é o herói falho típico da Marvel, com problemas familiares mal-resolvidos e uma arrogância e ira enterrados em um coração bondoso e um exemplo a seguir. O garoto é uma juvenil mistura admitida de Peter Parker e Tony Stark (há uma cena de vôo que parece tirada do primeiro “Homem de Ferro”), mas acaba funcionando muito bem na tela justamente por conta de suas interações com o grandalhão rechonchudo e ingênuo Baymax, que conquista o público com sua inocência e vontade de ajudar – apesar de ter um acesso de fúria muito similar a um certo golias esmeralda.

A relação dos dois é tão bacana de se acompanhar que esquecemos quão derivativos esses personagens são e embarcamos sem pestanejar em suas jornadas. Se Hiro e Baymaxsão o coração do filme, os outros membros da equipe acabam relegados ao papel de mera gordura. Com exceção do extrovertido e nerd Fred, os demais heróis da fita são meros arquétipos, desprovidos de maiores personalidades, o que acaba enfraquecendo o grupo em si.

Fica difícil se importar com GoGo, Wasabi ou Honey Lemon justamente porque o roteiro não dá tempo para que seja construída uma relação mais convincente entre eles e Hiro – e com o público. Fred escapa um pouco disso por seu jeito despojado e por ser a própria referência para a criação da equipe, tendo ainda um reforço do próprio roteiro para ganhar um subplot próprio (não saia do cinema até o fim dos créditos, aliás).

Visualmente, o filme é sensacional, com a direção de arte se esbaldando na criação de San Fransokyo. Ao misturar elementos arquitetônicos e culturais de duas capitais tão diferentes entre si, a direção de arte do filme nos presenteia com uma cidade que funde perfeitamente elementos-chave de ambas as cidades.

O modo como a ponte Golden Gate ou os famosos bondinhos de San Francisco são reimaginados com detalhes orientais ou as próprias edificações da linha da cidade que balanceiam detalhes culturais tão distintos justificam o fato da primeira setpiece do filme ser basicamente uma desculpa para explorar esse cenário.

Neste sentido, os próprios uniformes dos heróis são uma fusão entre heróis nipônicos e dos comics tradicionais, podendo ainda uma certa influencia de “Big Guy &Rusty” ser vista em Hiro e Baymax. Enquanto o visual do vilão Youkai é um tanto genérico, o uso dos microbôs por parte do antagonista é deveras interessante também

A despeito de alguns problemas no balanceamento da equipe e no desenvolvimento do roteiro em seu terceiro ato, com uma conclusão um tanto quanto forçada e apressada, “Operação Big Hero” é extremamente bem sucedido por conta de seus cativantes protagonistas, criando assim um universo cheio de potencial, e deixa claro que a parceria Disney/Marvel irá muito além dos Vingadores.

PS: Chegue cedo na sessão para assistir ao emocionante curta em animação tradicional “O Banquete”, que é absolutamente imperdível.

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