Por GUY PEIXOTO NETO*
A pandemia do novo coronavírus não é apenas uma crise de saúde. Por conta do isolamento implantando em todo mundo, milhões de pessoas tiveram seus empregos impactados e muitos empreendedores tiveram que fechar seus negócios temporariamente enquanto outros tiveram que impor precauções e executar suas atividades em menor extensão.
As consequências econômicas já são visíveis, mas ao longo da história, as crises foram cruciais no desenvolvimento de nossas sociedades. As pandemias anteriores ajudaram a desenvolver os sistemas de saúde, as guerras forçaram inovações tecnológicas e a crise financeira global motivou a criação de empresas de tecnologia como Uber e Airbnb. Por conta disso, é certeiro afirmar que a atual pandemia de coronavírus provavelmente não será uma exceção. Mas no meio do caos, com tantas demissões, cortes de salários, fechamento de empresas, quais são as oportunidades de empreendedorismo?
Muitas empresas têm enfrentado a crise não apenas cortando custos, mas também migrando para novas atividades empresariais. Em todo o mundo, há exemplos de respostas motivadoras: destilarias nos Estados Unidos, Canadá e Austrália começaram a produzir álcool gel. Restaurantes estão fechando suas mesas, mas oferecendo entrega ou retirada. Empresas de moda como Zara e H&M estão fazendo equipamentos de proteção para hospitais. Equipes de companhias aéreas, como da Scandinavian Airlines, estão sendo treinadas para ajudar nos hospitais. A escassez de ventiladores em unidades de terapia intensiva não apenas motivou empresas como Philips e Draeger a aumentar a produção, mas também levou marcas de automóveis como Ford a produzir os dispositivos médicos.
Novas tecnologias também podem oferecer inúmeras oportunidades à medida que a crise transforma os produtos ou serviços oferecidos. Uma empresa que está colhendo muitos frutos neste momento é a plataforma de vídeo conferências Zoom. Com a adesão ao home office e as reuniões e encontros sendo realizados online, Eric Yuan, fundador da empresa, viu seu patrimônio dobrar nos últimos dois meses, devido ao enorme número de pessoas que passaram a utilizar a ferramenta.
O setor de e-commerce também tem crescido bastante apesar do isolamento do COVID-19. De acordo com uma pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm), as compras online tiveram um aumento de 35% se comparado ao mesmo período do último ano. Só no setor de produtos para saúde, o aumento foi de 124%. Em outro levantamento feito pela Konduto, são apontados outros setores que tiveram grande crescimento nos primeiros dez dias do isolamento social, entre 15 e 24 de março: brinquedos (aumento de 643%), supermercado (aumento de 448%) e artigos esportivos (aumento de 187%).
Os números mostram que o momento é propício para empreender em áreas que facilitam a vida das pessoas durante a pandemia, mas é preciso ter em mente ao menos duas coisas. A primeira delas é que agora é fundamental agir conscientemente, independentemente do negócio, e mostrar cidadania. É hora de priorizar o bem-estar social e saber que talvez seja necessário abrir mão de lucros a curto prazo em benefício da sociedade. Segundo: se dará bem quem demonstrar criatividade - mesmo com recursos escassos - através de respostas criativas para desafios emergentes.
Em conjunto, cidadania e criatividade podem impulsionar o empreendedorismo socialmente consciente. Reputações são construídas - e perdidas - também em tempos de crise. Empresas que demonstram cidadania ajudando com a escassez ou fazendo grandes doações esperam que os consumidores se lembrem de suas ações quando a economia voltar ao normal. Além disso, tratar bem os funcionários durante um período de dificuldade aumenta a reputação da empresa como empregadora e cria uma força de trabalho leal.
Em tempos como esse - onde os riscos são altos e tudo muda rapidamente, é difícil saber exatamente o que fazer. Isso é ainda mais complexo para os empresários, que precisam gerenciar seus negócios e cuidar de seus funcionários, além de si mesmos e de suas famílias. No entanto, desafios e obstáculos podem levar à inovação e novas oportunidades. Eventualmente, sairemos dessa pandemia com um maior senso de empoderamento pessoal e maior conexão com a nossa comunidade e isso será vantagem para os negócios no futuro.
*Guy Peixoto Neto é mentor de empreendedorismo, empreendedor com experiência na criação, expansão e reestruturação de empresas. Aos 22 anos fundou a Operalog Transportes. Também é o fundador da startup Saly, plataforma de automatização dos processos de compras. Atualmente Guy está dedicando-se ao seu novo projeto, a GPX. Uma plataforma de conteúdo voltada para pessoas que querem se transformar em empreendedores ou que já são e querem continuar evoluindo.
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