POR GUSTAVO DE MAGALHÃES
Muita gente tem me perguntando se realmente esses meus causos são verdadeiros e se aconteceram mesmo comigo, ou são frutos da minha imaginação. São reais sim! Frutos de vivência e de peças que o destino me prega, porém, todas encaradas com bom humor e com muita felicidade, porque são sinais de que aproveitei bastante, no frigir dos ovos. Então já que não parecem reais, vou complicar mais ainda, sendo que este tem um final, digamos… heroico.
Voltando no tempo, eu lá com quatorze anos, morando “corpulosamente” em Ilhéus (e alguns que me acompanham nesses causos já tem essa noção do espaço por mim ocupado), na Praia dos Milionários curtindo o Asa, que tocava em um trio elétrico, em plena beira de praia, quando axé ainda era novidade.
La vinha eu, balançando e remexendo o tecido adiposo, desviando das pessoas, ou afastando-as. Ai cabe um detalhe mórbido, porém realista, que faço questão de relatar. Duas são as atitudes das pessoas magras perto das pessoas gordinhas, e isso é fato, e quero deixar esse alerta, para estudos sociais e para movimentos de defesas dos fofos: ou eles procuram tomar conta de seus espaços, arreganhando os braços, pernas, indo de encontro a nos, em detrimento do espaço ocupado dos gordinhos ou se afastam, como imãs, ao contrário, com receio de serem esbarrados (leia-se, esmagados).
A praia cheia, e eu procurava um canto para ver a banda, quando achei um espaço vazio ao lado do carrinho de pipoca. Muito novo, não tinha grandes pretensões para o momento, além de ouvir e cantar os aeeeees, eouuuussss, huhuuuuus que modulam a musica “prapular” baiana.
Não deu tempo de ouvir mais nada, pois ao encostar no pipoqueiro, senti apenas o vácuo, o chão se abrir, e aquele desespero de estar afundando num mar de… (como dizer para não enoja-los?) … resíduos estomacais?
Sim amigos, era uma fossa, e se abrira no simples calculo matemático de que se o peso for maior do que a resistência da tampa, essa vai quebrar!!! E quebrou!
Qual num filme de Spielberg, terror e pânico se instalaram, e o gordinho afundando, e levando consigo o carro de pipocas, e mais algumas pessoas, e as laterais do buraco, molhadas e meladas, não permitiam me segurar, e já podia ver o sol lá em cima, afunilando-se, e sentir… (bom, pulemos essa parte!), até que acho um toco de raiz, e me seguro, e alguém se aproveitando da base sólida, me usa como escada, e consegue sair do buraco; mas ninguém puxa o gordinho cagado (e não foi de sorte!).
Com muito sacrifício e desespero, que nos faz, Graças a Deus, fazer coisas fantásticas, consigo sair do buraco, qual um monstro fedorento afastando as pessoas (garanto que não foi vingança), em busca do mar, deixando o rastro fétido nas areias brancas das praias das terras da Gabriela, que, até ela fugia de mim naquele instante. Alcanço o mar, e vejo Yemanja correndo também de mim, e durante a evacuação consigo me lavar por inteiro. Ufa!
Até hoje sei bem o que senti principalmente o cheiro…, e certa feita, anos depois, sentado no Bar do Leleco, na Sapetinga, comendo um arrumadinho, contando essa história a Betinho Dentista, esse se vira (quase vi lágrimas em seus olhos!) e diz: “então foi em você que minha irmã pisou pra sair daquela fossa!?”.
Naquele momento, me tornei o Grande Herói, melado e fedorento (devem ser minhas armas secretas!), mas feliz e convencido todo, metido, afinal, não é todo dia que mesmo estando no fundo do poço você consegue salvar uma vida!
(gustavodemaglhaes@hotmail.com, whatsapp 77991982859)
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