POR MARIANA KAOOS
Hannah Arendt é o nome de uma filósofa política alemã que, lá no meio do século passado, escreveu um bocado de livro bacana sobre os mais variados assuntos sociais. Um deles, lançado em 1958, se chama A Condição Humana e traz um apanhado histórico e político do homem e da sociedade de maneira geral. Ou seja, ele (o livro) aborda da questão do trabalho, do público, do privado, da era moderna e assim por diante. A leitura como um todo é interessantíssima e super válida, mas aqui nesse momento, nos interessa apenas o primeiro capítulo.
É justamente nesse primeiro capítulo que Hannah faz uma distinção entre dois termos apresentados: vita activa e vita contemplativa. De acordo com a autora, a vita activa começa lá na Grécia antiga, com Sócrates e o seu conflito como filósofo com a polis. Resumindo de uma maneira bem paupérrima, a vita activa diz respeito ao nosso cotidiano, ao trabalho, às obrigações do dia a dia e da vida como um todo. Já a vita contemplativa, era (e ainda é) uma regalia dos filósofos, que objetivavam se ocupar com a contemplação do belo. Reproduzindo um pouco as palavras de Hannah, a vita contemplativa é “dedicada à investigação e à contemplação das coisas eternas, cuja beleza perene não pode ser causada pela interferência produtiva do homem nem alterada pelo consumo humano”.
Partindo do pressuposto que a cultura faz parte do belo, do eterno em minha existência, foi com esse pensamento, aliás, foi com essa sensação de contemplação que assisti ao show de Ítalo Silva e Marlua na noite de ontem (25). Intitulado Quatro por dois, os meninos realizaram uma apresentação única no Teatro Carlos Jehovah em que homenagearam quatro divas da música popular brasileira: Rita Lee, Maria Bethânia, Gal Costa e Elis Regina. Em agosto Marlua realizou o Gal Original e, agora em setembro, Ítalo veio com tudo com o seu Beta Bethânia. Ontem a proposta era de, juntos, dividirem o palco.
Após acompanhar de perto esses três momentos, vi que alguns detalhes tornaram-se repetitivos, formando assim um padrão: os três shows estavam marcados para começar em um determinado horário e todos atrasaram o início, deixando as pessoas esperando lá fora. Também aconteceu de, nesses três momentos, o público estar totalmente atento e entregue, ávidos por cultura, com olhos de paixão, sedentos por programações diferenciadas. Por fim, outra tipificação, e, para mim, a mais importante delas, é que nos três shows estava explícito, escancarado a qualidade profissional de Ítalo e Marlua, bem como dos músicos que os acompanharam (em Quatro por Dois, no caso, foram Euri Meira, Fábio Sharel e Haeckel França).
Se em Gal Original Marlua alcançou notas impensadas ao interpretar Meu Nome É Gal e, em Beta Bethânia, Ítalo surpreendeu a todos com a sua presença de palco e a sua força como intérprete, ontem não saiu por menos. Ele deixou a plateia apaixonada ao cantar Menino Bonito, de Rita, e ela fez com que os pelos do meu braço permanecessem arrepiados durante mais ou menos quatro minutos, tempo em que apresentou uma linda e forte versão de Arrastão, conhecida por todos na voz de Elis. As músicas que cantaram juntos também obtiveram um forte impacto sonoro. Eles apresentaram uma versão meio brega, meio arrocha de Negue e mostraram, através dela, como dialogam bem em voz e presença um com o outro.
Apesar de toda beleza e esplendor, certamente que nem tudo são flores. O show se perdeu em alguns momentos, pela extrema conversa em cena. Porque na verdade foi mais ou menos assim: Quatro Por Dois foi dividido em quatro blocos, com quatro músicas cada. A ordem foi Rita Lee, Bethânia, Elis e Gal. Nos blocos, Marlua cantava algumas, Ítalo outras e ambos dividiam o restante. Até aí tudo bem, só que entre uma música e a seguinte, eles conversavam demais e, em determinados momentos, isso fez com que a plateia se dispersasse, perdesse o feeling do show. O certo é que tanto Ítalo como Marlua mostram muito mais de si quando cantam do que quando falam e, sendo assim, a conversa, ainda mais quando perdura, se faz totalmente desnecessária. Chata, inclusive, em algumas situações. Talvez, por conta de uma falta de direção rígida que apare os excessos. Se os espetáculos musicais em Vitória da Conquista não tem direção, está na hora de se profissionalizar nesse sentido.
O show, contudo, mais uma vez foi lindo e cheio de encantos e desejos. A iniciativa de ocupar um teatro popular de arena para realizar propostas culturais como essa foi um tiro certeiro. Vitória da Conquista tem precisado (e muito) de opções de entretenimento assim, com qualidade, seriedade e respeito com o público. Ítalo cada vez mais vem se consagrando como um intérprete imponente, compromissado e completamente apaixonado pelo que faz. Já Marlua é visceral, lascívia, sua voz é ímpar e suas referências de vida, sempre explícitas em falas e canções, são profundas e sinceras. De agora em diante, quem venham mais shows, que venha mais público e que venha mais cultura. Ítalo, Marlua e os meninos da banda são doces e são bárbaros. Vida longa todos!
É justamente nesse primeiro capítulo que Hannah faz uma distinção entre dois termos apresentados: vita activa e vita contemplativa. De acordo com a autora, a vita activa começa lá na Grécia antiga, com Sócrates e o seu conflito como filósofo com a polis. Resumindo de uma maneira bem paupérrima, a vita activa diz respeito ao nosso cotidiano, ao trabalho, às obrigações do dia a dia e da vida como um todo. Já a vita contemplativa, era (e ainda é) uma regalia dos filósofos, que objetivavam se ocupar com a contemplação do belo. Reproduzindo um pouco as palavras de Hannah, a vita contemplativa é “dedicada à investigação e à contemplação das coisas eternas, cuja beleza perene não pode ser causada pela interferência produtiva do homem nem alterada pelo consumo humano”.
Partindo do pressuposto que a cultura faz parte do belo, do eterno em minha existência, foi com esse pensamento, aliás, foi com essa sensação de contemplação que assisti ao show de Ítalo Silva e Marlua na noite de ontem (25). Intitulado Quatro por dois, os meninos realizaram uma apresentação única no Teatro Carlos Jehovah em que homenagearam quatro divas da música popular brasileira: Rita Lee, Maria Bethânia, Gal Costa e Elis Regina. Em agosto Marlua realizou o Gal Original e, agora em setembro, Ítalo veio com tudo com o seu Beta Bethânia. Ontem a proposta era de, juntos, dividirem o palco.
Após acompanhar de perto esses três momentos, vi que alguns detalhes tornaram-se repetitivos, formando assim um padrão: os três shows estavam marcados para começar em um determinado horário e todos atrasaram o início, deixando as pessoas esperando lá fora. Também aconteceu de, nesses três momentos, o público estar totalmente atento e entregue, ávidos por cultura, com olhos de paixão, sedentos por programações diferenciadas. Por fim, outra tipificação, e, para mim, a mais importante delas, é que nos três shows estava explícito, escancarado a qualidade profissional de Ítalo e Marlua, bem como dos músicos que os acompanharam (em Quatro por Dois, no caso, foram Euri Meira, Fábio Sharel e Haeckel França).
Se em Gal Original Marlua alcançou notas impensadas ao interpretar Meu Nome É Gal e, em Beta Bethânia, Ítalo surpreendeu a todos com a sua presença de palco e a sua força como intérprete, ontem não saiu por menos. Ele deixou a plateia apaixonada ao cantar Menino Bonito, de Rita, e ela fez com que os pelos do meu braço permanecessem arrepiados durante mais ou menos quatro minutos, tempo em que apresentou uma linda e forte versão de Arrastão, conhecida por todos na voz de Elis. As músicas que cantaram juntos também obtiveram um forte impacto sonoro. Eles apresentaram uma versão meio brega, meio arrocha de Negue e mostraram, através dela, como dialogam bem em voz e presença um com o outro.
Apesar de toda beleza e esplendor, certamente que nem tudo são flores. O show se perdeu em alguns momentos, pela extrema conversa em cena. Porque na verdade foi mais ou menos assim: Quatro Por Dois foi dividido em quatro blocos, com quatro músicas cada. A ordem foi Rita Lee, Bethânia, Elis e Gal. Nos blocos, Marlua cantava algumas, Ítalo outras e ambos dividiam o restante. Até aí tudo bem, só que entre uma música e a seguinte, eles conversavam demais e, em determinados momentos, isso fez com que a plateia se dispersasse, perdesse o feeling do show. O certo é que tanto Ítalo como Marlua mostram muito mais de si quando cantam do que quando falam e, sendo assim, a conversa, ainda mais quando perdura, se faz totalmente desnecessária. Chata, inclusive, em algumas situações. Talvez, por conta de uma falta de direção rígida que apare os excessos. Se os espetáculos musicais em Vitória da Conquista não tem direção, está na hora de se profissionalizar nesse sentido.
O show, contudo, mais uma vez foi lindo e cheio de encantos e desejos. A iniciativa de ocupar um teatro popular de arena para realizar propostas culturais como essa foi um tiro certeiro. Vitória da Conquista tem precisado (e muito) de opções de entretenimento assim, com qualidade, seriedade e respeito com o público. Ítalo cada vez mais vem se consagrando como um intérprete imponente, compromissado e completamente apaixonado pelo que faz. Já Marlua é visceral, lascívia, sua voz é ímpar e suas referências de vida, sempre explícitas em falas e canções, são profundas e sinceras. De agora em diante, quem venham mais shows, que venha mais público e que venha mais cultura. Ítalo, Marlua e os meninos da banda são doces e são bárbaros. Vida longa todos!
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