quinta-feira, 17 de setembro de 2015

CALMANTE


POR GUSTAVO MAGALHÃES


Nas vésperas de fazer minha bariátrica (é… pra uns pode não parecer mas já fui beeeem mais gordo), por ordem médica, tive que tomar uns calmantes pra diminuir a minha natural ansiedade. Então esse causo advocatício aconteceu há pouco tempo. Fui pra uma audiência trabalhista com doutor Sebastião, essa figura já lendária da justiça da Bahia, com seus comentários nas audiências, muitos deles pertinentes, outros, a depender de onde se veja, nem tanto, sotaque carregado, que traz uma simpatia, uma nordestinidade na condução das audiências que é bem peculiar. 



Ao chegar avisei logo que tinha tomado calmantes, e que, diferente de todos os outros dias, não ia chateá-lo com milhões de pedidos, nem arranjar motivos pra confusão, o que é fato novo, e satisfez a todos que me conhecem nessas andanças de minha profissão.

Enfim, lá para as tantas, a audiência comendo solta, eu do lado da empregada doméstica, com pensamento nos biscoitos que tem na sala da OAB, vejo de soslaio que a patroa, com aquela boca torta de antipatia, fala pra minha cliente uma doce frase: “sua descarada”.
Oi? Como assim?

Viro ao colega que não viu a cena e peço que ele intervenha. Mas nem deu tempo, ela repete o elogio, de forma ameaçadora (“você me paga”). Ahhh! Paga não! Foi a cota e a conta. O monstro que adormecia dentro de mim, dopado, ressurge com sua corpulência de cento e parara quilos e como uma onda tisunamêsca, me levanto, ainda babando, e berro, apos o tapão estalado na mesa, “acabou o efeito do calmante, acabou agora; essa cidadã está ameaçando minha cliente doutor, não admito isso”. E babava sob o efeito da dormência da droga, e cuspia o colega sem querer (já de capa e guarda chuvas), me avolumava sobre a coitada, que vi que tremia… oh Jesus, que situação. Mas foi reação a injusta ameaça, digamos assim. “Acabou o efeito do calmante; passou tudo”, continuava berrando.

E doutor Sebastião?

Tinha visto a ameaça, e emendou, com aquele sotacão maravilhoso (aperte a tecla nordestinêz, por favor): “olha senhora, o advogado tem toda razão; a senhora por favor, nem olhe mais pra cliente dele, e torça pra que nada acontece nesses próximos dias, porque se um raio cair e acerte a reclamante, a culpa será sua; se ela tomar um choque no chuveiro, a culpa é sua”.


Já acalmado, hoje, me dou conta de que a senhora ofensora deve ter síndrome do pânico até hoje, sem querer sair de casa pra não causar nenhum mal a minha cliente!!!


Nenhum comentário:

Postar um comentário

SOCORRO!!!

  A Karisma News pede SOCORRO!!! Nunca chegamos a experimentar tanto descaso. Estamos sem alguma moeda nem pra comprar uma bala. A cada dia ...