segunda-feira, 6 de julho de 2015

ARTIGO: ÀS VEZES É PRECISO SER TEIMOSO



POR JORGE MAIA

Alguns dizem que papagaio velho não aprende a falar. A regra não é absoluta, papagaios há que aprendem em qualquer idade. A questão maior é a forma de aprendizado ou o seu preço, claro sempre um pouco mais caro, mas não impossível. A teimosia é fundamental. Não tive a oportunidade de praticar a natação durante a infância e adolescência, tal qual assistimos hoje os pais levando os filhos para a academia, onde aprendem a nadar. É um quadro corriqueiro, ocupar as crianças com um esporte saudável, além de necessário para a vida. Eu sempre sentia inveja de quem sabia nadar e passava vergonha por ser um dos poucos do meu grupo que não sabia nadar. Leia na íntegra.

Os filhos nascem, com eles a obrigação de acompanhá-los para as diversas atividades, inclusive a natação. Entrei para a natação. Meu Deus! Que sufoco, eu não conseguia sair do lugar. Era desanimador. Percebi no professor uma certa impaciência, seu trabalho não produzia resultado, e, confesso, estava eu disposto a desistir. Até que surgiu uma possibilidade.


Era véspera de um feriadão e Edna, da Ed natação, anunciou que naquele feriado a academia ficaria aberta à disposição dos alunos que quisessem treinar. Eu decidi que estaria ali. Naquele dia cheguei às sete da manhã e disse para mim: hoje eu sairei da piscina, ou sabendo nadar, ou em um caixão, morto, afogado.

Senhores, houve um momento em que pensei encomendar um caixão. Eu batia perna, batia braço, pulmão estourando, um cansaço infernal. Eu não saia do lugar. Algumas pessoas olhavam e ficavam com a expressão de preocupação diante de tanto esforço para nadar, aliás para nada. Era uma epopeia, eu me sentia em pleno oceano, sem a possibilidade de chegar em terra firme, mas não desisti.

As horas passavam lentamente e eu ali, insistindo, já não sabia se era vaidade, ou loucura o que estava fazendo, mas não era momento para filosofar, era a sobrevivência, não queria morrer afogado em uma piscina, em um feriado. Segui em frente desafiando o pouco que restava de resistência, afinal, eu já estava conseguindo sair do lugar depois de quase três horas de treinamento intensivo.

Era meio dia, depois de cinco horas em um esforço solitário, quando todos já havia saído para curtir o resto do feriado, consegui atravessar a piscina e soltar o grito dos vencedores. Senti-me herói olímpico e subi ao pódio. Não havia alguém para entregar a medalha, mas era a alegria do vencedor que prevalecia.

É claro que saí vivo, se assim não fosse, como estaria eu relatando isso para os meus sete leitores? Naturalmente que nunca pensei em atravessar o canal da mancha. É suficiente nadar em uma piscina e divertir. 050715

Foto: Blog do Anderson

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