sábado, 6 de junho de 2015

SÉTIMA ARTE EM DESTAQUE - A INCRÍVEL HISTÓRIA DE ADALINE


POR GABRIEL JOSÉ
Estudante de Cinema da UESB


Pare e Pense: Imagine se você pudesse passar por todo o século XX, o mais revolucionário de toda a história humana? Acompanhar as subversões que mudaram o mundo, as duas Guerras Mundiais, a Guerra Fria, a , etc. Agora imagine também se você pudesse fazer tudo isso com a sua juventude preservada, sem sofrer com os efeitos da passagem do tempo? Afinal, isso seria uma bênção ou uma maldição? Presenciar as mudanças e a deterioração de tudo e todos ao seu redor enquanto você se mantém absolutamente intacto? Este é o caso de Adaline, neste honestíssimo “A Incrível História de Adaline”, escrito por J. Mills Goodloe e Salvador Paskowitz e dirigido por Lee Toland Krieger.

Envolto em um tom fantasioso que confere carisma à película, o longa acompanha a vida de Adaline (Blake Lively), nascida no início do século XX, que após sofrer um acidente de carro e receber uma descarga elétrica vinda de um raio, acaba por desenvolver um processo de paralisação do seu envelhecimento celular, se tornando, basicamente, imortal. Ainda que seja uma premissa bastante ficcional, é interessante como o roteiro faz questão de colocar um risco de ciência (ou pseudo-ciência) na situação e brincar com o fato.

Acontece que, o que inicialmente salvou sua vida e a tornou eternamente uma jovem de “29 anos”, se prova na verdade um grande problema. Todos à sua volta começam a envelhecer, se deteriorar fisicamente e mentalmente, e ela permanece intacta, sem ter como arranjar uma explicação plausível para o fenômeno. A conjuntura fica insustentável quando sua filha, que era nada mais do que uma criança na época da fatalidade, ultrapassa sua idade e fica parecendo mais uma irmã mais velha do que uma primogênita. Então, ela resolve fugir e viver como uma “ninguém” dali em diante; mudando de localidade e identidade ao longo das décadas, sem que nenhuma pessoa saiba sua verdadeira história.

Impossível não se lembrar de obras como “O Curioso Caso de Benjamin Button” e similares. Todavia, se no filme de David Fincher é a reversibilidade do tempo que desperta o interesse de todos, como um relógio que conta de trás pra frente, aqui é a imutabilidade deste que se torna o duro fardo da protagonista. Dessa forma, não é o modo como os outros lidam com ela que importa, e sim como ela se relaciona com todos que o cercam. A impossibilidade de ter um futuro com qualquer pessoa que seja, apesar de futuro ser o que ela mais tem à disposição (como um próprio personagem faz questão de destacar em dado momento) é daqueles paradoxos de beleza ímpar que eleva a experiência a um patamar diferenciado.

Do ponto de vista narrativo, entretanto, algumas decisões são um tanto quanto questionáveis. A inserção de flashbacks ao longo da projeção abala um pouco o ritmo da obra e se mostram, além de desnecessárias, um recurso de roteiro pobre para amarrar determinadas pontas “soltas” lá na frente, no mais clássico e rasteiro estilo “pista-recompensa” que se pode imaginar. Nem mesmo a aparição decisiva de Harrison Ford na metade final justifica tal escolha; pelo contrário, só comprova que estas deviam ter sido melhor pensadas. Ao meu ver, ficaria mais interessante se esses recursos fossem abordados de forma tradicional como se manda um roteiro clasasssico , as vezes a ideia mais inovadora, não é a mais interessante.

A abordagem essencialmente romântica do contexto, por mais que incomode, é algo que consegue causar um impacto satisfatório no espectador com relativa eficiência, ainda que isso inegavelmente limite as possibilidades da premissa básica proposta pelo script.

Contudo, é conveniente colocar que as virtudes superam as falhas e o resultado final de “A Incrível História de Adaline” é bastante positivo. Uma “fantasia científica”, que, apesar de limitada pelas escolhas dos realizadores, explora bem aquilo que se propõe e entrega um romance digno, que vai além da camada superficial tradicional do gênero. Bom filme.

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