domingo, 28 de dezembro de 2014

FILMES INESQUECÍVEIS: E O VENTO LEVOU


POR GABRIEL JOSÉ
Estudante de Cinema da UESB


Um filme não se torna um dos mais assistidos de todos os tempos à toa. . Eo Vento Levou” é um épico maravilhoso e inesquecível, que faturou inúmeros prêmios importantíssimos ao longo da história: 10 Oscars, incluindo filme e diretor; está entre os 10 primeiros na lista dos 100 melhores filmes de todos os tempos da AFI; é o filme que mais faturou nas bilheterias de todos os tempos (segundo nossa matéria especial sobre bilheterias, com o discutível reajuste dos valores), entre outros números importantíssimos. Mas não são os prêmios que fizeram dele um grande filme. Eles foram apenas consequências de sua magnitude que reside até hoje nas telas.

Victor Fleming (de O Mágico de Oz, lançado também em 1939) acabou como o diretor da obra, mesmo tendo dirigido um pouco menos da metade de toda a filmagem. Isso porque o poderoso produtor David O. Selznick trocou nada mais nada menos três vezes de diretor, não creditando nenhum outro pelo trabalho. Seu poder na obra era tanto que até dirigir algumas sequências ao longo da produção ele dirigiu. David foi muito feliz em sua visão da força da obra, que poderia render um bom fruto cinematográfico. Comprou então os direitos autorais para transformar o livro de Margaret Mitchell logo que sua distribuição ao mercado foi lançada pela colossal quantia de 50.000 dólares. Se o livro fosse um fracasso, seria bem provável que o filme fosse pelo mesmo caminho, afundando junto o produtor, os diretores, o elenco e os 15 roteiristas pelos quais a história passou em mãos.



História que narra a complicada vida de Scarlet O’Hara (vivida magistralmente por Vivien Leigh), seus amores e desilusões em um período que tem a Guerra Civil Americana como pano de fundo. Clark Gable é RettButler, um vivido aventureiro que passa pela vida de Scartlet, em uma relação de amor e ódio marcada por conflitos já clássicos e cenas inesquecíveis de amor. Este filme praticamente inventou as telenovelas, devido aos conflitos constantes de emoções manifestadas e o romance como tema – não necessariamente por uma outra pessoa, e sim por uma causa, lugar ou qualquer outra coisa que se refira sentimentalmente ao personagem. Por isso, não estranhe se, ao assistí-lo, você ficar com a sensação de “já vi isso tudo antes em algum lugar”.Scarlet é uma personagem bastante complicada, uma vez que em plena época de protagonistas perfeitos, de ideais fortes e ordeiros, ela se apresenta egoísta e determinada a passar por cima de todos para conseguir defender sua terra que tanto ama – Tara. Isso pode soar feminista e irritante para alguns, mas na verdade é justamente aí que está o charme da personagem. Seu modo de lutar, sua força de vontade para trazer o bem aqueles que a rodeiam, sem nunca deixar de pensar na própria felicidade fazem de Scarlet uma personagem complexa e bastante profunda.

Inúmeras cenas marcam esta forte caracterização de Scarlet. uma vez que ele procura explorar também as horríveis consequências do pós-guerra em cenas chocantes. Outra, por exemplo, pode ser facilmente identificada como quando Scarlet parte em busca do doutor em pleno campo de batalha, para que ele faça o parto em Melanie Wilkes (Olivia de Havilland). A câmera vai se afastando e subindo em um gigantesco traveling para mostrar a dimensão dos mortos e feridos naquela batalha – uma cena fantástica, por sinal, ao combinar perfeitamente o incrível número de figurantes com a avançada técnica de filmagem da época, que só foi possível por causa de um imenso guindaste.
As cenas de Butler funcionam quase que em sua totalidade em função de Scarlet, Vemos esse amor entre os dois crescendo de forma quase que inaceitável por parte dos personagens, que aos poucos vão se rendendo e passando a se ajudar não só por uma questão de sobrevivência ao meio, e sim por amor.

Se pararmos para analisar, um dos grandes trunfos de “…E o Vento Levou”, é saber utilizar as locações de maneira verossímil e satisfatória, sem perder a magia e o encanto da obra. Só que para algumas sequencias mais complicadas não houve jeito: a solução foi mesmo filmar tudo em estúdio. A cena em que Scarlet foge com Butler e Melanie na carroça, por exemplo, além de muito bem escrita (“[…] não perca o cavalo, já deu muito trabalho roubar esse”), foi simplesmente uma das mais fantásticas já filmadas em Hollywood. Vários estúdios inteiros tiveram de ser entregues às chamas para que tudo ficasse real e assustador.

O sucesso na execução foi tanto que alguns vizinhos da MGM chegaram a chamar os bombeiros achando que o estúdio estava em chamas realmente. Mas na verdade, nada mais do que os antigos cenários de King Kong (1933) estavam sendo queimados e quase duas horas de incêndio filmados para um maior realismo chegar às telas.

Para entender um pouco a grandiosidade de “…E o Vento Levou” basta pensarmos que, de mais de 28 horas de cenas filmadas, apenas 4 foram utilizadas no produto final. Horas e mais horas foram gastas na edição, sem ao menos David ter consultado algum de seus diretores para nenhum dos cortes. Uma produção imensa que custou aos cofres da MGM cinco milhões de dólares, quantia irrisória se pensarmos nos valores atuais de produções, ainda mais se pensarmos nos lucros que o filme deu e continua dando ao estúdio.

Vivien Leigh foi uma felizarda. Convenhamos entrar em uma produção desse tamanho, com as filmagens já iniciadas e ser a escolhida dentre mais de mil atrizes cotadas para o papel não é apenas talento, é sorte também. Bette Davis era cotada para o papel de Scarlet, para sorte de Vivien. Ela balanceou perfeitamente a ingenuidade que Scarlet deveria ter no início do filme e protagonizou uma bela mudança de comportamento da personagem devido ao rumo que as coisas tomaram na história e conforme suas necessidades foram se apresentando.

Referindo também a uma época pré Cidadão Kane, onde muito da linguagem cinematográfica ainda não estava desenvolvida, é fácil também achar algumas partes primitivas e extremamente ultrapassadas. Mas pelo fato de ter sido feito antes da obra-prima de Orson Welles e mesmo assim apresentar algumas tomadas ótimas, .

E o Vento Levou” consegue seus méritos em vários momentos. Duvido que alguém esqueça sua canção tema, por exemplo. Muitas pessoas, inclusive, reconhecem-na mesmo sem nunca ter assistido ao filme.

Lançado em uma época complicada da história, E o Vento Levou construiu uma história tão interessante quanto a que é contada no filme. Se vocês acharam emocionante Halle Berry ter recebido seu Oscar aos prantos, o que dizer de HattieMcDaniel, que não pôde receber sua estatueta de coadjuvante simplesmente por ser negra? Sua produção é de uma grandeza igualada por poucos com o passar do tempo. Seus 10 Oscar (um honorário e outro técnico, por isso talvez alguns o considerem vencedor de apenas oito estatuetas) representam um pouco da imortalidade da obra. Para todos os cinéfilos de plantão, uma obra obrigatória em nossa lista de filmes assistidos. Gostando ou não do resultado final, é certo de que assistir .E o Vento Levou” será uma experiência única para toda a vida.

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