quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

FILMES INESQUECÍVEIS: BEN-HUR




POR GABRIEL JOSÉ
Estudante de Cinema da UESB

Filmes grandes às vezes são difíceis de se ver, ainda mais se eles tiverem mais de três horas de duração. Mas se o filme em questão for um dos mais belos, bem realizados e consistentes da história do cinema, não me importo em ficar quase quatro horas em frente à televisão. É claro que estou falando da obra-prima máxima de William Wyler Ben-Hur. Lançado em 1959, e sendo a segunda versão adaptada para o cinema do livro homônimo do Coronel Lew Wallace (a primeira foi em 1925, sendo que o filme era mudo, mas também marcou época no seu lançamento) esse filme marcou época pela beleza imposta na tela, principalmente levando-se em consideração que os recursos disponíveis eram escassos. Para os padrões dos filmes vistos até aquele ano, este foi um acontecimento único.

Vencedor de 11 merecidos Oscar. Sempre constando nas listas dos melhores filmes de todos os tempos, Ben-Hur se destacou também pois a sua história, fictícia, confunde-se com a história de Jesus no tempo de sua pregação e crucificação (um dos momentos mais belos do filme). Antes mesmo de Russel Crowe e o seu general Maximus de Gladiador entrarem em cena para vingar a sua família, Judah Ben-Hur (Charlton Heston, em um dos papéis mais memoráveis já vistos no cinema e que lhe rendeu o Oscar de melhor ator), já passava de escravo a corredor de bigas, se tornando um deus das multidões, tudo para tentar se vingar de seu antigo amigo  Messala (interpretado por Stephen Boyd).

A história gira em torno de Judah Ben-Hur, que vivia no início do século primeiro como um príncipe e mercante de Jerusalém. Quando o seu velho amigo Messala é escolhido pelo governador para ser o oficial comandante de uma das legiões romanas, Judah ficou feliz. Mas com o passar do tempo as visões dos dois amigos divergiram-se e eles acabaram por se separarem. Durante uma parada de boas vindas, uma telha da casa de Judah cai, quase acertando o governador. Mesmo tendo consciência de que seu amigo era inocente, Messala acaba mandando-o para as Galés. Não se sentindo rogado por fazer aquilo, também condenou a sua mãe e irmã para passar o resto de suas vidas na prisão. Sabendo disso, Judah jurou que um dia ele voltaria para se vingar.



Ao longo do tempo, Ben-Hur passou por todo o tipo de provação, fortalecendo sua imagem e seu personagem a cada nova dificuldade. Depois, ele começou a correr de biga no circo romano, onde adquiriu experiência com o passar dos tempos. Aí, o filme começa a nos preparar para uma das cenas mais bem realizadas da história: a corrida de bigas.

A corrida de bigas tem os dezessete minutos mais intensos que um telespectador pode querer de um filme. A realidade com que foi filmada, imposta por Wyler, nos faz ter arrepios vendo as quedas dos participantes das bigas, enquanto duelam para chegar na frente e enquanto duelam pelas suas próprias vidas. A queda e atropelamento de Messala, nesta cena, é outro ponto-chave no enredo do filme, além de ser incrivelmente realista (hoje em dia, com milhões em computação, seria quase impossível recriar algo com tamanha veracidade). É quase impossível você não achar que ele realmente morreu.

Após a corrida de bigas, Ben-Hur começa uma busca por sua mãe e irmã, que foram levadas para um retiro, por causa da Hanseníase (Lepra). Ao descobrir que estão vivas ele as traz para casa, onde no caminho se deparam com Cristo sendo levado para crucificação, em outra cena memorável do filme. Ben-Hur continua acompanhando o martírio, e isso faz ele abdicar de toda a raiva existente em seu interior, voltando para sua família  em paz com seu coração. Uma bela lição de vida, além de ser um momento emocionante do filme.

Os números mostram realmente a grandeza desse épico: foram usados 100 mil figurinos, oito mil figurantes e mais de 300 sets de filmagem. Sem contar que o orçamento usado para realizá-lo transformou-o no maior filme de todos os tempos, em sua época. Outro número impressionante referente a Ben-Hur é o de Oscars que arrebatou: além de melhor ator (Charlton Heston), melhor diretor (William Wyler) e, claro, melhor filme, ele ainda levou as estatuetas de melhor ator coadjuvante (Hugh Griffith), melhor direção de arte, melhor fotografia, melhor figurino, melhor montagem, melhor trilha sonora de drama ou comédia (MiklosRozsa), melhor som e melhores efeitos especiais. Deixou de ganhar apenas o de melhor roteiro adaptado. Foram 11 no total, valor só igualado 38 anos depois, com Titanic.

Para finalizar, dentre todo o espetáculo proporcionado pelo filme, gostaria de destacar algumas cenas, de particular genialidade, para tentar explicar um pouco melhor a estonteante experiência de ver Ben-Hur:

» A primeira seria logo quando Judah está sendo levado para os campos de escravos. Em um determinado momento, ao pedir água, ninguém lhe dá atenção, e por isso ele pede ajuda para Deus, pois está morrendo de sede. Nesse momento, ele ganha uma caneca de água de ninguém menos do que o próprio Jesus.

» Outra cena seria no momento da corrida de bigas, a qual ele usará para se vingar de seu escravizador Messala. A corrida em si é qualquer coisa de fenomenal. A realidade imposta pelo diretor é tamanha que você não consegue soltar a respiração, vendo os corredores como verdadeiros predadores em busca de suas vítimas (os adversários) e da vitória. Os acidentes ao longo do percurso fazem parecer que eles estão realmente correndo, sendo que até correu um boato que um dos figurantes havia morrido durante as filmagens. Até hoje não se sabe realmente se foi verdade.

Levado para as Galés, Ben-Hur sofre ao ter de remar junto com outros escravos durante uma batalha de vida e morte. Você consegue enxergar no semblante de cada tripulante escravizado o sofrimento, a dor e a vontade que cada um demonstra pela vida. Por mim, todos os atores que participaram dessa seqüência mereceriam pelo menos uma menção honrosa.

A última cena é a crucificação de Cristo. Ela nos revela o quanto somos pecadores e tentamos sempre nos dar melhor em tudo. Ela serviu para que Judah Ben-Hur se desse conta de que toda aquela raiva existente nele não serviria para nada, pois mesmo morrendo Jesus pediu para que seu Pai perdoasse a quem tivesse feito isso.

Depois de todos esses exemplos, gostaria de recomendar essa obra-prima para os verdadeiros amantes de filmes (assim como eu), para que possam se deliciar da verdadeira arte de fazer cinema – o que hoje em dia está cada vez mais escasso em se tratando de super-produções. Assistam ele com calma e sintam, assim como eu senti, uma grande emoção (confesso que cheguei a chorar em algumas partes do filme). Aproveitem!

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