quarta-feira, 15 de outubro de 2014

SÉTIMA ARTE EM DESTAQUE: AMOR SEM FIM


POR GABRIEL JOSÉ
Estudante de Cinema da UESB

O gênero cinematográfico do romance gerou algumas das obras mais humanas da história da sétima arte. Infelizmente, também se trata de um terreno deveras perigoso para cineastas e roteiristas desatentos, cujas incursões neste filão podem gerar obras artificiais, rasas e chatas, que passam longe de dialogar com o coração do publico. É o caso deste “Amor Sem Fim.

Trata-se de uma segunda adaptação do pesado livro “Endless Love”, de Scott Spencer. A primeira tentativa, datada de 1981, resultou em um dos longas menos marcantes de Franco Zeffirelli, hoje mais lembrado pelos jovens astros em seu elenco (especialmente Brooke Shields, James Spader e Tom Cruise) e pelo sucesso da música de Diana Ross que fazia parte da trilha sonora.

Já esta nova empreitada se mostra um desastre completo, no qual pouca coisa funciona, até porque trata-se de uma versão mais leve da história, desprovida de todos os momentos mais dramáticos do original, com os roteiristas Shana Feste (“Onde o Coração Está!”) e Joshua Safran (diversos episódios de “Gossip Girl”) basicamente entregando uma história de “menino pobre e menina rica apaixonados”, extirpando qualquer peso da história.


A jovem, rica e bonita Jade Butterfield (Gabriella Wilde), cuja família passou por uma grande perda, vive focada no objetivo traçado por seu pai, Hugh (Bruce Greenwood), de torná-la uma grande médica, tal qual ele. Às vésperas de começar seu curso em uma grande universidade, ela engata um romance com David Elliott (Alex Pettyfer), rapaz romântico, mas com um passado problemático que tenta esconder. Enquanto o relacionamento progride, David conquista toda a família Butterfield, exceto Hugh, que vê a filha se afastando do rumo que ele havia traçado.

Os problemas psicológicos e o aspecto obsessivo que acompanhavam David no livro e no filme de Zeffirelli são parcialmente transferidos para Hugh, que se torna o grande obstáculo para o enlace do casal central, mas o experiente Bruce Greenwood não tem muito espaço para desenvolver seu personagem. Além disso, as mudanças de atitude e comportamento de Hugh no decorrer da projeção se mostram extremamente forçadas, com os realizadores e Greenwood levando o patriarca dos Butterfields na base dos solavancos.

O roteiro acaba por matar qualquer complexidade dentro do relacionamento central. O resultado disso é que 80% dos momentos entre David e Jade são incrivelmente chatos e lembram mais videoclipes românticos que o desenrolar de uma história. Aliás, boa parte dessas cenas são realmente montagens musicais – e ruins diga-se de passagem, pois acabam atrapalhando a própria evolução da fita. Assim, o que temos é uma edição esquemática “diálogo-montagem musical-diálogo” o tempo todo, tornando a experiência deveras maçante.

Mesmo os problemas nos quais David se envolve, especialmente no segundo e no terceiro ato, tornam-se meros mal-entendidos, com o guião, de maneira deveras explícita, correndo para exonerar o protagonista de qualquer culpa por eles. Jade também não possui nenhum arco narrativo senão suspirar por David durante o filme inteiro.

Destarte, Pettyfer e Wilde não podem fazer muita coisa com seus personagens além de posar frente às câmeras e parecerem bonitos. Apenas Pettyfer possui uma cena um pouco mais desafiadora e só. Além disso, a trama exige que os personagens sejam adolescentes de 17 para 18 anos, idade que o casal principal passa longe de aparentar, mostrando até onde vai a covardia e preguiça dos realizadores. Ademais, a primeira cena de sexo entre os dois, que deveria significar entrega e mudança, acaba esvaziada de qualquer sentido, justamente pela falta de ousadia de Shana Feste.

O resultado final deste “Amor Sem Fim” 2014 é um filme maçante, visualmente chato, sem desenvolvimento de personagens e com um elenco claramente perdido em tela. Uma das bombas do ano .

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