quarta-feira, 17 de setembro de 2014

GENTE QUE BRILHOU: JOSÉ FERNANDES PEDRAL SAMPAIO



TEXTO: BIA OLIVEIRA

Filho do engenheiro Sifredo Pedral Sampaio e de Dona Maria Fernandes Pedral Sampaio, José Pedral Sampaio, nascido no dia 12 de setembro de 1925, foi diplomado engenheiro civil no dia 11 de novembro de 1949 pela Escola Politécnica da Universidade da Bahia. Casou-se duas vezes: em primeiras núpcias com a professora Maria Lícia, e, viuvando-se, contraiu segundo casamento com sua cunhada, professora Zilda Moura Costa.

Lançou-se na política em 1958, quando perdeu as eleições de prefeito para o líder político da época: Gerson Sales. Teve uma expressiva votação neste pleito e se credenciou como uma alternativa para a oposição nas próximas eleições. Aquelas eleições culminavam um processo de divergências acentuadas entre grupos. Já em 1954, não fora fácil ao grupo de Gerson Sales viabilizar a eleição de Edvaldo Flores. Contra este se insurgiu mesmo uma parcela do PSD, que resolvera apoiar a candidatura de Nilton Gonçalves, candidato com discurso populista. Foi a campanha do “Tostão contra o Milhão”, que tanto marcou a década de 50 em Vitória da Conquista. O “Tostão” era Nilton Gonçalves e o “Milhão” era Edvaldo Flores. Deu “Milhão”.

A oposição foi retomando seu curso de crescimento. Na câmara, despontava Alberto Farias, vereador que fazia uma oposição combativa. O jornal “O Conquistense” (título que antes pertencera à situação), passou a ser veículo de aglutinação de forças. À medida que iam se aproximando as eleições de 1962, a situação foi se complicando para Gerson Sales. Este e seu grupo optariam por tentar dividir a oposição. Finalmente, o candidato apresentado pelas forças “gersistas” foi um vereador que houvera militado na oposição: Jesus Gomes dos Santos, poeta. Sim, o poeta de “Maria Gabiraba” e da “Procissão”, poesias que lhe causaram dor de cabeça durante as eleições, por seu conteúdo social.

Pedral era a expressão de transformações profundas por que passava Conquista. Já não era mais uma cidade marcada exclusivamente pelo latifúndio. O urbano já predominava, o comerciante crescia, cidadãos de outros municípios chegavam e se afirmavam, e Conquista ia se consolidando como um pólo regional. Com a diversificação econômica e novos agentes sociais, a história começava a mudar. José Fernandes Pedral Sampaio vencera o pleito com ampla margem de votos, considerando-se o número de eleitores da época. Foram 2.384 votos de diferença em relação a Jesus Gomes dos Santos. Em 7 de outubro de 1962, apoiado pelo PSD (Partido Social Democrático) de Régis Pacheco e MTR (Movimento Trabalhista Renovador – de Fernando Ferrari), venceu facilmente seus adversários Jesus Gomes dos Santos (da UDN), Hugo de Castro Lima (do PTB) e Jorge Stolz Dias (do PSP), obtendo votação superior aos três candidatos juntos: Pedral Sampaio (7.051 votos), Jesus Gomes (4.677 votos), Hugo de Castro (557 votos) e Jorge Stolz (96 votos). O médico Hugo de Castro Lima, apesar do grande prestígio que gozava na cidade, não conseguiu ampliar sua candidatura, e Jorge Stolz Dias, que houvera sido barulhento prefeito numa interinidade, não tinha expressão eleitoral suficiente.

A morte da professora Carmosine Marques Pereira, assassinada em José Gonçalves, foi uma “bandeira política” utilizada pelo Pedralismo para a vitória das eleições de 62, assim como o Getulismo fez com o assassinato de João Pessoa na Paraíba, que levou Getúlio a transformar aquele fato em plataforma política para a tomada do poder em 1930. A morte de Carmosine enfraqueceu o Gersismo (o pistoleiro Zacarias, que matou a professora, foi contratado por um simpatizante de Gerson Sales). No velório da professora Carmosine em José Gonçalves (terra de Jesus Gomes), perguntaram ao Padre Palmeira: Padre, o Senhor está contra ou a favor de Jesus? O padre sorriu, olhou para Pedral e respondeu com desdém: Estou com o pai, José (referindo-se a José Pedral).

O padre, aliás, ajudou na construção do Pedralismo e na vitória das eleições de 62, ao conseguir, através de projeto de lei na Assembleia Legislativa, emancipar as chamadas broacas de Gerson (as cidades de Cândido Sales, Barra do Choça, Caatiba, Anagé e Belo Campo) ainda em 1962. Uma “jogada” de mestre. Por quê? Porque, nas eleições de 58, quando Pedral perdeu para Gerson Sales, ele venceu na sede mas perdeu na Zona Rural. Então, o que era preciso fazer? Livrar-se dos “currais” eleitorais do Gersismo. O distrito de Caatiba foi desmembrado pela Lei nº 1.401 de 1º de Abril de 1961. No dia 22 de fevereiro de 1962 o distrito de Belo Campo foi emancipado pela Lei nº 1.623, formado por dois distritos: Belo Campo (Sede) e Quaraçu. Vitória da Conquista perdia dois distritos de uma vez só. O distrito de Anagé foi desmembrado através da Lei Estadual nº 1.656 de 5 de abril de 1962, e no dia 22 de junho de 1962 o distrito de Barra do Choça também alcança sua emancipação pela lei nº 1.694, um projeto apresentado à Câmara de Vereadores de Vitória da Conquista pelo vereador Alberto Farias. No mesmo ano, em 5 de julho de 1962, o distrito de Quaraçu recebe sua emancipação político-administrativa. Contudo, é eleito o nascente povoado denominado de Nova Conquista que tem seu nome alterado para Cândido Sales, e passa a ser o distrito-sede do recém-criado município e, assim, Quaraçu perde sua condição de distrito, passando para a condição de simples povoado.

Padre Palmeira e Pedral Sampaio, no dia em que disseram que ele não posaria em Conquista. E ele pousou…

Em Vitória da Conquista, as ideias de “Reformas de Base” de João Goulart alcançaram repercussão. Na década de 60 eram aqui discutidas e se fizeram acompanhar de movimento mobilizador. Os bancários realizaram greve. Os pedreiros fundaram seu sindicato. Os estudantes organizaram seus grêmios e passou a haver certo movimento estudantil.

Iris Silveira entrega alguma coisa ao primeiro presidente da Ditadura Militar, Humberto de Alencar Castelo Branco

A polarização nacional repercutia em Vitória da Conquista e aqui se acentuou quando João Goulart assinou o decreto da Reforma Agrária, tímida medida de desapropriação de áreas ao longo das rodovias federais. A medida motivou muitos protestos e, em Vitória da Conquista, políticos de oposição a Jango e fazendeiros reagiram. Ruy Medeiros registra a realização de uma grande reunião de fazendeiros no Cine Conquista, cujo principal orador foi Íris Silveira. Bradavam contra João Goulart e suas propostas reformistas. E, naturalmente, contra os comunistas. Os discursos dos oradores diziam mais que o simples descontentamento com a reforma agrária trombeteada, apesar de tímida em sua proposta oficial. Os derrotados nas eleições de 1962 ainda viviam o desconforto da derrota. Não a aceitavam. Parecia-lhes absurdo a perda do poder local. Na imprensa, com o jornal “O Sertanejo”, e na câmara, com os vereadores da UDN e do PTB, desenvolviam a oposição, quer à administração local, quer às reformas pretendidas.

Apesar do abraço, o vereador Gil Moreira participaria ativamente da preparação do impeachment de Pedral

Em 1º de abril veio o golpe. Em Vitória da Conquista era chegada a hora da “desforra” (no dizer de Ruy Medeiros). A quartelada era também uma oportunidade para a vindita. Os Gusmãos, derrotados pela coligação liderada por Pedral Sampaio, começaram desde cedo a luta. Na Câmara Municipal, no trabalho pró-ditadura e anti-Pedral, destacavam-se principalmente os vereadores Gil Moreira e Orlando Leite.

O caminho até maio foi difícil, mas aquele terrível mês de maio chegou. O golpe estimulou o reacionarismo do jornal “O Sertanejo”, dirigido por Pedro Lopes, e dos vereadores da UDN e do PTB, que falavam em “incorporar Vitória da Conquista aos fatos nacionais recentes”. Ou seja – para ser claro – o golpe deve agir mais intensamente no município, é o que queriam dizer. Depois, abertamente, sugerem e aprovam o convite para que aqui venha apurar fatos uma comissão dos “novos” senhores do poder. Além do médico e vereador Gil Moreira e de Orlando Leite, destacavam-se, na agitação a favor da ditadura, os edis Misael Marcílio e Virgílio Ferraz. Queriam o afastamento de Pedral e de vereadores ligados a ele, como Péricles Gusmão Régis, que será morto.

Com essa visão, os vereadores pró-ditadura fizeram aprovar na Câmara Municipal uma proposição convidando a 6ª Região Militar para uma visita ao município “para apuração de fatos”, sem especificar a que fatos se referiam. E então desembarcou na cidade, no dia 5 de maio de 1964, a força-tarefa repressiva comandada pelo capitão Antônio Bendochi Alves Filho, com seu ônibus do terror, estacionado na Praça Rio Branco, no centro da cidade. A delação, que cresce nesses momentos, economizou esforços do capitão.
Já no dia seguinte, 6 de maio, as prisões tiveram início, auxiliados pelo despudor da delação. Para um ônibus, estacionado na praça Barão do Rio Branco, no centro da cidade, eram conduzidos os prisioneiros. Dali foram levados às celas do Batalhão de Polícia (o ex-9º BPM), onde eram interrogados, respondendo a IPM – Inquérito Policial Militar, sob supervisão do sr. Antônio Bendochi Alves Filho, capitão do Exército.

Nesses primeiros dias, tendo o ônibus da Praça Rio Branco como quartel-general e centro de triagem, foram presos, entre outros, Aníbal Lopes Viana (jornalista e suplente de vereador), Franklin Ferraz Neto (juiz trabalhista), Gilson Moura e Silva (radialista), Hugo de Castro Lima (médico), Ivo Vilaça Freire d’Aguiar (funcionário público), José Fernandes Pedral Sampaio (engenheiro civil, prefeito), Péricles Gusmão Régis (vereador), Raul Carlos de Andrade Ferraz (advogado), Reginaldo Santos (diretor do jornal “O Combate”) e Vicente Quadros Silva Filho (radiotécnico).

Depois, foram presos Everardo Públio de Castro (professor) e seu filho Nudd David de Castro, Anfilófio Pedral Sampaio (funcionário público e suplente de vereador) e Camilo de Jesus Lima (escritor e oficial do Registro de Imóveis), este preso em Macarani e transportado para Vitória da Conquista. No próprio dia 6, por determinação militar, a Câmara de Vereadores, em sessão extraordinária, cassou o mandato do prefeito e empossou no cargo o presidente da Câmara, o vereador Orlando da Silva Leite, que seria eleito formalmente, pela Câmara Municipal, prefeito, em junho, e completaria o mandato de Pedral até abril de 1967. Nesse dia estava ausente da cidade o vereador Olavo Ramos e, de seu sítio no lugar “Pedra Branca” onde se achava, dali fora conduzido num jeep militar, por soldados armados de metralhadoras, para “falar com o Capitão Bendochi, no Quartel”. Os vereadores foram “convidados” a comparecer às 13h ao Quartel da Polícia Militar para um entendimento secreto, com o Comandante. Até um suplente de vereador, Flávio Santos, foi convocado para comparecer à sessão para fazer quórum (dois terços) para que a Câmara pudesse deliberar. Antes das 20h daquele sombrio 6 de maio as duas entradas da Rua Zeferino Correia, onde se localizava o prédio da Câmara de Vereadores, foram fechadas (soldados armados de metralhadoras foram colocados nas duas esquinas e ninguém podia passar sem permissão do Comando Militar).

Em 13 de maio de 1964, um dos presos, Péricles Gusmão Régis apareceu morto na cela onde fora aprisionado. Sua morte não foi bem explicada e a informação oficial (que aparece em seu registro de óbito) é a de suicídio. É possível que tenha sido assassinado. Um dos presos na época relata que ouvira de um companheiro de cela a informação de que havia ocorrido luta corporal entre Péricles Gusmão Régis e o capitão Bendochi Alves Filho. O primeiro parente a ver o corpo nu de Péricles estranhou a grande quantidade de hematomas e de cortes e ficou com a impressão de que Péricles tenha sido torturado, amarrado com fios metálicos finos que o cortaram quando tentara desvencilhar-se. Os cortes teriam sido provocados pelo fio, e não pela lâmina de barbear encontrada na cela. O grande cortejo fúnebre de Péricles Gusmão Régis não foi simples homenagem ao morto. Aí estava presente o profundo sentido de protesto: protesto, pesar e homenagem.

Dentre os presos, Camillo de Jesus Lima, Franklin Ferraz Neto, José Pedral Sampaio, Raul Ferraz, entre outros, foram transferidos para Salvador, onde permaneceram respondendo a IPM. Seriam liberados depois, demorando mais o professor Everardo, que ficou onze meses e que seria o único formalmente condenado por crime político, em razão do referido IPM, retornando anos depois à prisão. José Pedral teve seus direitos políticos suspensos por 20 anos, quando da edição do Ato Institucional nº 2 pela ditadura militar.

Pedral assumiu a prefeitura em 7 de abril de 1963 e governou o município até 6 de maio de 1964. Na sua curta administração de 13 meses realizou as seguintes obras: construção de chafarizes no Alto Maron e bairro de Olavo; calçamento da Rua do Triunfo; arborização e calçamento da Praça Sá Barreto; convênio com a Coelba, transferindo a esta a antiga “Empresa Municipal de Energia Elétrica”; e calçamento da Rua Plácido de Castro.

Durante sua primeira gestão, Pedral transformou o prédio do antigo “Quartel de Polícia” na atual Prefeitura, e comprou o sobrado de Manoel Fernandes dos Santos Silva (Maneca Santos), transformando-o no “Fórum João Mangabeira” e Câmara de Vereadores, funcionando no mesmo prédio a “Junta de Conciliação e Julgamento da Justiça do Trabalho”.

Pedral, em sua curta administração em 1963, promoveu ainda a ampliação da Praça da Bandeira com desapropriações e pavimentações, dando-lhe o nome de “Praça Dino Correia” (onde foi construído o Conjunto Comercial do Mercadão na administração de Fernando Spínola).

Por fim, Pedral ainda promoveu, nos treze meses de sua primeira administração, as seguintes realizações: complementação da pavimentação da Lauro de Freitas e acostamento da Avenida Régis Pacheco, adquiriu para o Município o galpão da S.T.E.R. (Serviços de Terraplanagem de Estradas e Rodagens), empresa que asfaltou a Rio-Bahia no início dos anos 60 no trecho entre Cândido Sales e Vitória da Conquista, lá instalando o almoxarifado da Prefeitura (hoje DESERG), entre outras realizações.

Foi cassado na quartelada de 1964, tendo seus direitos políticos suspensos por 10 anos, prorrogados por mais 10. Mas, 1982, após cumprir 20 anos de suspensão, candidatou-se pela legenda 1 do PMDB e, disputando o cargo de prefeito com Sebastião Castro, Ruy Medeiros e Margarida Oliveira, foi eleito por maioria dos votos no dia 15 de novembro, consolidando sua liderança política em Conquista.

Voltou em 82 como herói e fez uma das melhores administrações da história político-administrativa desta cidade. Tomou posse no dia 31 de janeiro de 1983. As obras de infraestrutura que fez, Conquista usa até hoje. Tocador de obras, os equipamentos que hoje servem à população (como as feiras do Ceasa e do bairro Brasil, o terminal de ônibus da Lauro de Freitas, entre tantos outros), o credenciou como o maior líder político de Conquista no século XX.

Aliás, sua liderança consolidou-se a partir da segunda metade da década de 70, quando conseguiu eleger Raul Ferraz em 1976, que prepararia seu retorno em 1982. No entanto, o antigo MDB que elegeu Jadiel em 1972 não era o mesmo em 1982. Era um PMDB “rachado”, tanto é que Pedral venceu as eleições de 1982 de outro peemedebista, Sebastião Castro, que já tinha sido derrotado por Raul Ferraz em 1976.

Havia uma dissidência no seio da “trincheira”: de um lado, o Pedralismo de Raul e J. Pedral (só para ficar nas figuras de ponta); do outro, o Jadielismo de Sebastião Castro, do próprio Jadiel Matos e de Elquisson Soares. O cisma se deu em 76, quando Tião rompeu com Pedral, pois este apoiara Raul para as eleições municipais. E depois de sua cassação, cada eleição era como se Pedral pudesse escolher quem iria “no seu lugar”.

Na década de 80 tornou-se o maior líder político de Conquista até então, ao coordenar a campanha política de Waldir Pires para o Governo do Estado em 1986, derrotando o candidato de Antônio Carlos Magalhães, Josaphat Marinho. Em 1987 assumiu a Secretaria Estadual dos Transportes.

Nesse momento o Pedralismo atingia seu auge, mas logo veio a primeira frustração de Pedral pós-82, com Waldir Pires, que, no curto mandato de Governador só se preocupou em fazer caixa e, quando Pedral achava que iria colocar em prática seus projetos para a Bahia, viu-se decepcionado com a atitude de Waldir ao deixar o Governo do Estado nas mãos de Nilo Coelho, que, de plano, o “engessou” e, em seguida, o exonerou da Secretaria de Transportes.

Retornou à Prefeitura em 1988 para fazer seu sucessor, Murilo Mármore, então presidente da Emurc – Empresa Municipal de Urbanização de Conquista, que administrou o município até 31 de dezembro de 1992.

No dia 1º de janeiro de 1993 Pedral Sampaio assumiu a Prefeitura pela terceira vez após derrotar seu ex-aliado Raul Ferraz, nas eleições de 1992.

E o que contribuiu para a construção deste líder-mito? O impacto do golpe civil-militar em Vitória da Conquista em 1964, que provocou a cassação do então prefeito José Fernandes Pedral Sampaio, a prisão de vários cidadãos e em especial a morte de Péricles Gusmão; tudo isso contribuiu fortemente para a construção de uma imagem vitimizada do grupo político local preterido após o golpe.

A eleição de Jadiel Matos (MDB) à prefeitura em 1972 (com o apoio logístico de Pedral); a eleição do sucessor (Raul Ferraz); o retorno de José Pedral (PMDB) ao executivo municipal em 1982; a eleição de novo sucessor (Murilo Mármore – PMDB); a eleição de deputados estaduais na segunda metade da década de 70 (Jadiel Matos e Elquisson Soares); a eleição de deputados federais (Elquisson Soares e Raul Ferraz) e por fim a participação ativa na campanha e eleição de Waldir Pires em 1986 deram ao grupo político afastado do poder municipal em 1964 – rotulado ao cabo do processo apresentado de pedralista – a áurea de núcleo oposicionista com traços de esquerda democrática e à pólis sertaneja o de “bastião da resistência democrática”, “trincheira democrática” da Bahia. Imagem construída ao longo de mais de duas décadas, difundida e usada como justificadora para o exercício do poder.

O Pedralismo tinha até logomarca: Pedral fez sua carreira política assinando J. Pedral. Em 1987 criou-se outra marca: Pedral Sampaio. Tinha até marchinha: anda, anda, vem Pedral…

À leitura tradicional do discurso oficial da Vitória da Conquista “bastião da resistência democrática”, sede de um grupo oposicionista de esquerda democrática, se contrapõe de forma ainda dispersa em diferentes estudos o germe da negação. A democrática oposição conquistense revelou o seu perfil conservador quando checada em seus interesses no pleito eleitoral de 1992, praticamente em bloco (houve raras e honrosas exceções).

O Pedralismo firmou aliança com o grupo liderado em âmbito estadual por Antônio Carlos Magalhães, egresso da Arena/PDS, aliado/representante regional do Regime Militar, decepcionando a cidade que estigmatizou esta atitude de “cooptação ao Carlismo” e a imprensa de “capitulação de Pedral”, uma vez que ambos sempre se divergiram e agora (1990) se convergiram. E para quê? Para nada. ACM não ajudou Pedral. Pelo contrário, o abandonara. Aí veio sua 2ª decepção.

Apesar de Sampaio ter saído vitorioso nas eleições municipais deste ano, esse momento histórico foi o marco de sua aterrissagem política e decolagem de Menezes

Fez (entre 1993 e 1996) a pior administração da história político-administrativa de Conquista (salários do funcionalismo atrasados, fornecedores sem receber, lixo a recolher, entre outras mazelas mais), completamente diferente de sua administração anterior, quando construiu a maioria dos equipamentos que está aí até hoje na cidade, abrindo espaço para a chegada de Guilherme Menezes, o líder político de Conquista na primeira década do século XXI.

De lenda para o ostracismo, apesar da tentativa em 2002 para deputado estadual (já tinha tentando para deputado federal em 1990, sem êxito). Era figura de proa do PMDB baiano; hoje, esquecido pelas próprias lideranças que ajudou a construir. Pedral virou-se contra a história e a história virou-se contra Pedral, Sua aliança com ACM, para muitos historiadores, rasgou sua trajetória de resistência.

Devolução simbólica (histórica) do mandato de prefeito
Em 2013, uma sessão na Câmara Municipal de Vitória da Conquista marcou a devolução simbólica do mandato de prefeito a José Pedral Sampaio. Durante a ditadura militar, tendo em vista sua militância de esquerda, a própria Câmara, sob pressão dos militares, cassou o mandato de Pedral, que foi, posteriormente, vítima de barbáries pela ditadura. A sessão, evento histórico para o município, foi uma das últimas aparições públicas de José Pedral.

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