POR GABRIEL JOSÉ
Qual a origem das histórias? Ninguém melhor para buscar essa origem do que um exímio contador de histórias, o diretor e roteirista Wes Anderson, conhecido por obras primas do cinema como “Os Excêntricos Tenenbaums” e “MoonriseKingdom”. Uma história pode estar em vários lugares: em uma estátua, em um livro, em um depoimento ou em uma conversa de restaurante, e assim somos levados, nos primeiros minutos do filme, a conhecer a bela história de “O Grande Hotel Budapeste”.
Inspirado nos escritos de Stefan Zweig, Wes Anderson nos apresenta ao monsieur Gustave (em uma atuação divertidíssima de Ralph Fiennes), um homem que não apenas trabalha, mas vive o que é ser parte do hotel Budapeste. Famoso por manter relações íntimas com as hóspedes idosas, ricas e carentes, enquanto cuida impecavelmente de cada detalhe na organização do hotel, Gustave começa uma bela amizade com o novato mensageiro Zero Moustafa (Tony Revolori), que será a alma do filme.
Essa relação será colocada em prova quando uma de suas hóspedes, Madame D. (Tilda Swinton, irreconhecível sob a maquiagem), acaba falecendo e, no testamento, deixa um valioso quadro para Gustave, o que desagrada totalmente o filho Dmitri (Adrien Brody) que fará de tudo para incriminar o monsieur na morte da mãe. E para isso, terá a ajuda de seu capanga Jopling, com um Willem Dafoe aproveitando ao máximo sua cara de mau. Assim, Gustave precisará mais do que nunca do apoio de Zero para superar a maior crise de sua vida.
Nesta perseguição de gato e rato, que ainda envolve um momento de guerra que o país vive, Anderson não economiza em seus maneirismos, como os personagens caricatos e centralizados na tela, a quebra da quarta parede e, mais uma vez, acompanhado por uma belíssima fotografia de Robert D. Yeoman, com cores cada vez mais vivas, destacando o belo trabalho do departamento de arte. Uma prova disso é que diversos planos poderiam ser transformados em quadros e fazer bonito em qualquer exposição.
Fora o conhecido cinema autoral do diretor, ele também mostra segurança nas cenas de ação, algo que já havia revelado, mais timidamente, no filme “A Vida Marinha com Steve Zissou”. Aqui consegue criar ótimas cenas de perseguição, mantendo a tensão com seu ótimo humor satírico, em sequências que ganham força com a empolgante trilha sonora de Alexandre Desplat e a edição fluente de Barney Pilling. O ápice acontece em um tiroteio totalmente nonsense no 3º ato do filme.
É interessante destacar como o diretor consegue, de uma forma bem orgânica, revelar cenas que poderiam causar repulsa em um público mais sensível de uma maneira, até certo ponto, “humorada”. Então não fique surpreso quando vir uma cabeça decapitada ou dedos sendo cortados e, ainda assim, surgir um sorriso no rosto.
Como era de se esperar, o filme ainda conta com um elenco grandioso, marcando presença vários colaboradores da filmografia do diretor: Bill Murray, Edward Norton, Jason Schwartzman e Owen Wilson são alguns deles. Um elenco que ganha um charme a mais com a adição de Saoirse Ronan, que cai perfeitamente como interesse romântico de Zero. Se Gustave e Zero são a alma do filme, Agatha e Zero são o coração.
Assim, “O Grande Hotel Budapeste” é mais uma bela história contada pelo excêntrico Wes Anderson que, com um talento primoroso, usa um dos melhores meios para se contar uma história: o cinema. E em uma época que o cinema é dominado por grandes produções que investem em aparência e deixam o conteúdo de lado, sempre é um alívio presenciar a sétima arte sendo tratada com amor.
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