quarta-feira, 2 de abril de 2014

SÉTIMA ARTE EM DESTAQUE: EM BUSCA DA TERRA DO NUNCA

POR GABRIEL JOSÉ*

Sir. James Matthew Barrie é um escritor escocês que vive em Londres. Lá, ele escreve suas peças para um público já fiel,  e ganha um bom dinheiro com isso. Em sua peça mais recente, enfrenta certas dificuldades de aceitação dos espectadores. Barrie acaba por entrar numa crise, em que lhe falta inspiração e vontade de seguir com os seus escritos. Ao caminhar por um parque, encontra quatro encantadores meninos e sua bela mãe, Sylvia Llewelyn Davies. De imediato, Barrie identifica-se com as crianças, e torna-se um amigo íntimo daquela família, ao mesmo tempo em que mantém uma relação fria e distante com a sua esposa. O seu dia agora limita-se a permanecer com os seus novos amigos, dia e noite.


Juntamente com as crianças, cria um mundo fantasioso, cheio de piratas, castelos, selvas e índios. Finalmente inspirado, Barrie começa a escrever uma peça, baseado em tudo o que ocorre com a sua vida naquele momento. Principalmente em sua relação com Peter, o menino caçula, um pequeno indomável. Barrie leva a sua bonita estória ao palco, mas uma intervenção desafortunada do destino faz com que os seus planos não funcionem exatamente como era esperado.


O filme mostra, em sua essência, o processo de criação de J.M. Barrie, o gênio dono de todo o universo místico e fantástico de ‘Peter Pan’. Este, talvez, seja um ponto que não irá agradar a todos que estão esperando por um filme intensamente cheio de aventuras e magia. Justamente por estar em um meio-termo: não conta a fabulosa estória do menino que não queria crescer, nem podemos dizer que se trata de uma cinebiografia do conceituado escritor. O roteiro é baseado na peça teatral de Alan Knee, ‘The man who was Peter Pan’, que idealiza pelo menos um pouco a vida do homem que foi o escritor escocês, incrementando-a com toques da fantasia que ele mesmo criou. Essa é a fantasia que o criador do famoso personagem parecia guardar consigo durante anos, e, só quando conheceu as pessoas perfeitas com quem dividi-la, libertou-a.

Depois de ter feito alguns personagens bastante irreverentes e até cômicos, Johnny Depp, que teve de ter aulas com um instrutor para aperfeiçoar o sotaque escocês, nos aparece em “Em Busca da Terra do Nunca” de forma bem diferente, refreado, mas, ainda assim, em uma ótima atuação. Saindo de um filme bastante tenso como “A Última Ceia”, o diretor é feliz em não abusar do relacionamento da mãe dos garotos (Kate Winslet) com o escritor (Johnny Depp). Porém, uma das grandes desvantagens do filme é o clichê-mais-do-que-gasto do drama acerca da doença da mãe dos meninos. A participação de Dustin Hoffman, que, para mim, será o eterno cativante Benjamin Bradock, é um dos pontos altos deste longa-metragem, apesar do papel sem grande importância.

Alguns detalhes importantes da estória de Sir. James Matthew Barrie foram deixados de lado pelo diretor. Eles provocariam uma diferença enorme no contexto do longa-metragem. A quantidade de filhos da  senhora Sylvia Llewelyn Davies, e o fato de o pai das crianças não ter morrido, são alguns destes detalhes. Porém a tradição de interpretar a peça utilizando atrizes até nos papéis masculinos foi mantida, dando até um  certo charme ao filme. Uma curiosidade é que a jovem atriz principal do filme “O Jardim Secreto”, faz uma aparição durante a peça, interpretando Wendy.

“Em Busca da Terra do Nunca” é um filme bonito, mas que, por não explorar mais a fundo a fabulosa estória criada por Sir. James Matthew Barrie – que só vem a ser mostrada quase ao término do filme -, talvez perca um pouco do encanto para as crianças. Ou até mesmo para nós, eternos meninos.

*Gabriel José é estudante de cinema da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB)


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