POR ELANE FERRAZ DOS SANTOS
Sábado 29 de março o Partido dos Trabalhadores, por iniciativa das mulheres que compõe a sua executiva, promoveu uma discussão sobre as várias situações vividas pelas mulheres, sobretudo no campo da política, reflexões motivadas ainda pelo ”8 de março”. Domingo 30 de março a Igreja Católica de Conquista reuniu milhares de pessoas, a maioria mulheres, para a Ordenação Episcopal do Monsenhor Estevam Santos.
O que tem de comum nesses dois eventos? Ambas as estruturas, Partido Político (no caso o PT) e Igreja são instrumentos que tem como princípio a transformação das estruturas injustas e das várias realidades que oprimem as pessoas, a libertação de todos, o combate a toda forma de discriminação, o amor ao próximo, a fraternidade, a solidariedade etc. É claro que não estou igualando as duas instituições em sua missão, estou apenas falando de princípios.
Mas, o que mais tem em comum os dois eventos? O papel invisível da mulher! Sim, a invisibilidade da mulher; apesar de sermos maioria em todas as estatísticas no que se refere ao número de eleitores e de fiéis, vivemos ainda uma situação de discriminação e de falta de reconhecimento do nosso papel nessas duas estruturas e também – infelizmente – em todas as outras que a nossa mente é capaz de imaginar.
Pois bem, o que dizer de um Partido que apesar de ter uma mulher Presidenta da República, não permite a participação pelo menos paritária de mulheres nas várias instâncias partidárias, nos cargos comissionados, na ocupação de fato das vagas de representação de vereadoras, deputadas, senadoras? E o que dizer de uma administração local, com o PT à frente, que se nega em dar o tratamento que merece a questão de gênero?
O que dizer de uma Igreja – que é a minha também – que num evento como de ontem invisibiliza as mulheres? A propósito, onde estavam as religiosas? Porque elas não participaram da procissão de entrada? Porque para elas não estavam reservado lugares ao lado do altar? Porque somente homens, arcebispos, bispos, padres, seminaristas, diáconos e nenhuma mulher? Mas, quem é que, no dia a dia, move a ação evangelizadora da Igreja? Será que nós católicos não podemos nos inspirar, para uma luta transformadora da estrutura machista da Igreja, nas matriarcas, profetizas e libertadoras do Povo de Deus no Antigo Testamento? Nas tantas “Martas e Marias” dos evangelhos, nas mulheres fiéis e seguidoras de Jesus até o fim e nas companheiras de missão de Paulo? Oh, não pensem que estou aqui defendendo a ordenação sacerdotal para mulheres! Não pelo menos na estrutura hierárquica hoje existente; estou defendendo e questionando a possibilidade da “visibilidade” do papel da mulher.
Foi notável e louvável, na ordenação de Dom Estevam, a entrega do báculo por Maria Murta como também o “aparecimento” de Maria parteira abençoando os bispos João Cardoso, Zanoni e até o arcebispo D. Celso José! Isso serviu para mostrar que as mulheres existem e que são protagonistas importantes. Duas Marias, duas mulheres negras distintas em suas ações dentro da Igreja, mas que, para mim, representam uma atitude de rompimento com a estrutura que nega essa visibilidade.
As mulheres que buscam afirmar direitos, cidadania plena, igualdade de tratamento e de espaços, as que desejam outra ordem social, política e religiosa, vão encontrar ressonância dentro dessas estruturas? Entendo que as mudanças vão vir de forma lenta, progressiva e nem sempre surgirão por decreto, mas, sim, a partir da mudança de comportamento da própria mulher, inclusive daquelas que disseram que o estupro é motivado “pela insinuação da própria mulher” (confirma dados do último estudo do IPEA e que foi notícia na semana passada); virão da mudança de todos os homens que se levantaram contra a barbárie e os arbítrios do autoritarismo – amanhã faz 50 anos do golpe militar – e de todas e todos que acreditam na força transformadora de sua fé em Jesus Cristo e de sua devoção por Maria. Está na hora dessas instituições não só falarem em igualdade, dignidade e democracia para os outros, mas de vivê-las e de protagonizá-las em seu seio, mudanças geradoras de libertação e liberdade.
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