sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

OPINIÃO: A COROA DE FLORES QUE FALTOU



POR NÁDIA MÁRCIA CAMPOS

Como é de domínio publico, neste ultimo dia 13 de fevereiro, um grave acidente vitimou a Sra. Rosa Maria Correia de Menezes, idosa, mãe, avó, irmã, cunhada, tia. Minha querida Tia Rosa, que a todos presenteava com sua lembrança constante dos nossos aniversários, uma memória infalível para números e datas, esperta e dinâmica para além dos seus 65 anos. A dor da noticia para nós, familiares, veio como um calafrio, o momento de estar com seu corpo, o culto para refrigério dos nossos espíritos, o sepultamento… E na quinta-feira as 11 e 30h seu corpo desceu a tumba. Ali, observando o trabalho meticuloso dos trabalhadores do cemitério, presenciei o descer da urna funerária, a colocação das lajes de cimento que separa a morte da vida e, finalmente as flores. Coroas de Flores enviadas por entidades e famílias que reconheceram naquele ato a necessidade de amenizar a dor da família e da cidade de Vitória da Conquista frente aquele acidente horrível que poderia ocasionar a qualquer um dos conquistenses ou a qualquer um dos transeuntes da Avenida Lauro de Freitas, onde em poucos metros, esta instalado o terminal de ônibus urbano de uma cidade de 336 mil habitantes, e que conta com uma população flutuante presumida de 100 mil pessoas advindas diariamente de 80 municípios que margeiam a capital do sudoeste baiano.



Debrucei-me sobre a cena do sepultamento, embalada pelo choro dolorido dos meus familiares, mas não consegui mais chorar, a dor me encaminhou para quem sou, e a pergunta que me vinha era: o que vale a pena viver? E continuei… O que tenho vivido até agora? Sou uma cidadã que profissionalmente defendo direitos, lido com a proteção social das pessoas, o que naturalmente me encaminhou a tomar uma posição política de esquerda, onde a garantia da democracia e do direito disponível deve estar subjugado ao direito insubstituível como o direito à água, ao ar, ao ir e vir, a vida. Assim me reconheço como cidadã conquistense, vinculada a um partido de esquerda, o Partido dos Trabalhadores, que esta administrando o governo municipal, do qual eu mesma, como profissional e cidadã política, já contribui como técnica da saúde e como gestora da política municipal de assistência social.
Enquanto pensava verifiquei quem nos endereçou flores, e na ordem pude ver corroas de flores do Esporte Clube Primeiro Passo de Vitória da Conquista, dos professores da Escola Sacramentinas, da empresa de ônibus envolvida no acident, e de algumas famílias amigas. Mas senti falta da manifestação da Prefeitura Municipal de Vitória da Conquista, esta institucionalidade que é responsável pelo bem-estar dos cidadãos e cidadãs que residem e que passam pelo município.

Certamente a Prefeitura não teve condições de estar atenta à morte de uma de suas cidadãs, porque a solenidade de assinatura da ordem de serviço para a construção do aeroporto tomou toda a atenção do gabinete civil e do cerimonial do governo municipal. Ficou menor a dor que a cidade estava passando, a dor que a família estava passando, o incômodo de pais e educadores de explicar, as crianças, que seres humanos podem ter seus corpos triturados em via publica.

Mas a ausência de atenção da Prefeitura Municipal talvez só tenha sido sentida por mim, que convivi e convivo com companheiros e companheiras no trato político partidário e conseqüentemente do governo atual, mas isso fica hoje, três dias depois, um fato de menor importância também para mim. Valho-me desta ausência para me indignar, porque a indignação é a antítese da resignação e o resignar não cabe em espaço de democracia real. Portanto o meu pronunciamento é no sentido de que este episodio fatídico, de um entre outros acidentes que vem ocorrendo ultimamente na via publica de Vitoria da Conquista, posse vir a ser a mola propulsora para que URGENTEMENTE a Prefeitura Municipal possa propor, discutir com a população, planejar e efetivar aquilo que é de responsabilidade do governo municipal, a organização das vias e meios de transporte da capital do sudoeste baiano.

Foge completamente a minha área de atuação, mas arvoro-me como cidadã a pleitear que seja definida uma área a apresentado um projeto de uma estação de transbordo de transporte urbano, onde os passageiros não precisem atravessar as ruas disputando o espaço com o ônibus e carros, alem de carroças puxadas por animais e veículos de propagandas, pois é este o quadro que atualmente presenciamos no terminal da Lauro de Freitas. Vou mais alem, em uma cidade que cresce vertiginosamente como Conquista, se faz urgente que sejam definidos os espaços que podem ser ocupados por colonizadores econômicos privados, e aqueles que são espaços de bem comum, que servem para direito de ir e vir da população. Ê preciso garantir praças e outros espaços de convívio no reconhecimento das diferenças entre crianças, idosos, pessoas com deficiência e população em geral, proporcionando a todas as pessoas a equidade no direito da convivência comunitária.

De acordo com a Wikipédia o transporte urbano da cidade é dividido em 41 linhas, sendo 24 radiais, 12 diametrais e 5 perimetrais e a cidade possui apenas um terminal central, localizado na Avenida Lauro de Freitas, por onde passam todas as linhas radiais e diametrais… O sistema de transporte de Vitória da Conquista é organizado pela prefeitura municipal através da Secretaria de Trânsito, Transporte e Infraestrutura Urbana, o SIMTRANS.
É chagada a hora de universidades, técnicos e estudantes se posicionarem pela melhoria na qualidade de acesso as vias publicas, definindo, inclusive, como estará a cidade daqui a 20 anos, quando, do meu ponto de vista leigo, precisaremos ter, ao menos, duas linhas de metro, corredores de ônibus definidos, ruas com acesso apenas a pedestres, espaços sem acesso a carro, incentivo ao transporte solidário, dentre outras alternativas que as grandes cidades modernas já utilizam.

Feito aqui meu desabafo frente à dor de perder a minha Tia Rosa, tentei fazê-lo como forma de prevenir o que pode atingir a outros cidadãos, amanha ou depois, em outros acidentes ocasionados pela ausência de um terminal de ônibus compatível com o tamanho da população de nossa cidade.

Aos indignados cabe posicionar-se também para os seus pares, e este governo que está administrando a cidade de Vitória da Conquista é um governo cuja gênese é de indignados, portanto com esta manifestação tento contribuir para continuar me orgulhando em fazer parte dele.

Nádia Márcia Correia Campos – Assistente Social; Filiada ao Partido dos Trabalhadores; Ex-secretária Municipal de Desenvolvimento Social de Vitória da Conquista-BA.

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