Prevenção, diagnóstico precoce e cuidado integrado são essenciais na luta contra o câncer de pulmão — o tipo mais letal entre os tumores malignos no Brasil, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA). No Agosto Branco, mês de conscientização sobre a doença, especialistas destacam os riscos do tabagismo, inclusive dos cigarros eletrônicos, e o papel da medicina respiratória, da pneumologia e da cirurgia torácica na melhora do prognóstico.
Dados do INCA indicam cerca de 30 mil mortes por câncer de pulmão a cada ano no país. Na Bahia, foram mais de 1.100 óbitos em 2023, com tendência de alta. O avanço do uso de cigarros eletrônicos entre jovens e a permanência do cigarro convencional entre adultos têm preocupado médicos, que já identificam quadros graves e nódulos pulmonares em estágios avançados em pacientes cada vez mais jovens.
“O cigarro eletrônico não é inofensivo. Ele expõe os pulmões a substâncias tóxicas que, embora diferentes das do cigarro tradicional, também causam inflamação, lesões e podem acelerar o surgimento de doenças pulmonares graves”, alerta o cirurgião torácico Pedro Leite, cirurgião de tórax do Hospital Mater Dei Salvador (HMDS) e do Núcleo de Cirurgia Torácica do Instituto Brasileiro de Cirurgia Robótica (IBCR). “Temos visto pacientes jovens com alterações pulmonares que, há dez anos, eram quase exclusivamente adultos com histórico longo de tabagismo”, completa.
A discussão ganha força com a proximidade do Dia Nacional de Combate ao Fumo, em 29 de agosto, data que integra o calendário oficial do Ministério da Saúde e mobiliza ações em todo o país. Em 2024, o foco das campanhas foi justamente o vape, cujo uso cresceu 600% entre adolescentes de 13 a 17 anos nos últimos cinco anos, segundo dados da Fiocruz.
Além de ações educativas e apoio à cessação do tabagismo, a prevenção também passa pela realização de exames. “Com a espirometria, conseguimos avaliar precocemente a função pulmonar e acompanhar o impacto de fatores como o cigarro, a poluição e doenças respiratórias crônicas”, explica a coordenadora do serviço de pneumologia do HMDS, Fernanda Aguiar. “É uma ferramenta importante para prevenção e também para o pré-operatório em casos de cirurgia torácica”, acrescenta Pedro Leite.
Rastreamento em pacientes de alto risco — Os especialistas reforçam que pacientes de maior risco têm indicação de fazer rastreamento para câncer de pulmão. Assim como as mulheres realizam mamografia, ultrassom e exames ginecológicos, todo paciente entre 50 e 80 anos que seja tabagista atual ou tenha parado de fumar há menos de 15 anos deve ser avaliado por um pneumologista. Essa avaliação permite verificar a saúde respiratória de forma geral, identificar doenças como a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) e realizar uma tomografia de tórax de baixa dose para rastreamento de câncer de pulmão.
“O Hospital Mater Dei Salvador reúne uma equipe de pneumologia capacitada para essa avaliação. Quando algum nódulo é identificado no exame ou existe alguma lesão suspeita, o paciente é avaliado pela equipe multidisciplinar para determinar a forma mais ágil de fazer o diagnóstico, a investigação e, se for uma neoplasia de pulmão, o tratamento dessa condição”, explica Fernanda Aguiar.
Nem todo nódulo pulmonar é câncer — a maioria não é. No entanto, nessa população de alto risco, a descoberta de um nódulo deve ser cuidadosamente analisada pela equipe multidisciplinar, pois pode representar uma oportunidade para o diagnóstico precoce. Esse público precisa passar por um verdadeiro “check-up do pulmão” anualmente, o que aumenta significativamente as chances de cura quando o tumor é detectado em estágio inicial.
Tecnologia e integração — A cirurgia robótica tem transformado o cenário do tratamento oncológico pulmonar. Técnicas minimamente invasivas reduzem o tempo de internação, as complicações e melhoram a recuperação dos pacientes. “A robótica permite mais precisão, menor sangramento e melhor preservação do tecido pulmonar saudável. Isso é essencial, especialmente quando lidamos com lesões pequenas detectadas precocemente por exames de imagem ou inteligência artificial”, afirma Pedro Leite.
O avanço tecnológico vem sendo acompanhado por uma mudança de modelo de cuidado, com ênfase na integração entre especialidades. No Hospital Mater Dei Salvador, por exemplo, casos suspeitos de câncer de pulmão são acompanhados por equipes multidisciplinares, compostas por pneumologistas, cirurgiões torácicos, oncologistas, fisioterapeutas e radiologistas. A abordagem colaborativa inclui métodos minimamente invasivos para o diagnóstico de alterações suspeitas, realizados pela equipe de broncoscopia e da radiologia intervencionista do HMDS.
Diagnóstico precoce — “O câncer de pulmão é, muitas vezes, silencioso nos estágios iniciais. Por isso, é fundamental que pessoas com fatores de risco façam acompanhamento regular. Um nódulo detectado a tempo pode significar cura total com cirurgia minimamente invasiva”, reforça Fernanda Aguiar.
Neste Agosto Branco, a mensagem dos especialistas é direta: prevenir é possível, diagnosticar cedo é essencial e tratar com precisão é cada vez mais viável. A luta contra o câncer de pulmão exige informação, acesso a exames, tecnologia e trabalho em equipe.


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