Médico cardiologista Luiz Agnaldo Souza
(Foto: Arquivo pessoal)
POR CARLA SANTANA CUNHA
“Tabaco: uma ameaça ao desenvolvimento” é o tema da campanha anual desse ano do Dia Mundial de Combate ao Tabagismo, celebrado em 31 de maio, mas no âmbito da saúde, a data serve para lembrar os malefícios que o tabagismo causa aos seus dependentes. No Brasil, um estudo recente sobre impacto econômico do tabagismo no SUS revelou que são gastos cerca de R$ 23 bilhões com o tratamento de algumas das mais de 50 doenças relacionadas ao tabaco.
A epidemia global do tabaco mata quase seis milhões de pessoas por ano, das quais mais de 600 mil são não fumantes, vítimas do fumo passivo. Sem alterações de cenário, estão previstas mais de oito milhões de mortes anuais a partir de 2030. Mais de 80% dessas mortes evitáveis atingirão pessoas que vivem em países de baixa e média renda.
O tabagismo é considerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) a principal causa de morte evitável no mundo. A organização estima que um terço da população mundial adulta, cerca de dois bilhões de pessoas, sejam fumantes. Pesquisas comprovam que aproximadamente 47% de toda a população masculina mundial e 12% da feminina fumam.
Além dos conhecidos estragos aos pulmões e a estreita relação com o aparecimento de câncer, o tabagismo também figura entre os vilões quando o assunto é a saúde cardiovascular: o cigarro é um dos maiores agressores do endotélio, a parede das células que recobre os vasos sanguíneos.
“O mecanismo de ação do cigarro no organismo já é bem conhecido. Ele interfere na produção de oxido nítrico, o que torna a camada superficial dos vasos, o endotélio, mais vulneráveis ao acúmulo de gordura e formação da temível placa de colesterol. Além disto, ela interfere no mecanismo de regulação responsável pela contração e relaxamento dos vasos levando a fenômenos isquêmicos entre eles: o infarto do miocárdio, a angina e o acidente vascular cerebral (derrame cerebral)”, explica o cardiologista diretor da Clínica ADS, Luiz Agnaldo Souza.
O tabagismo está associado a 25% das mortes por doença do coração e 25% das mortes por derrame cerebral, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Os mesmos prejuízos também são atribuídos ao cachimbo e ao charuto que, apesar de não serem tragáveis, possuem uma concentração de nicotina maior, que é absorvida pela mucosa oral. “É importante lembrar também os danos causados aos chamados fumantes passivos, que absorvem a fumaça do tabaco e acabam tendo sua saúde prejudicada”, ressalta o médico.
Adesivos e chicletes antifumo e até blogs para dar suporte psicológico para quem intenciona parar de fumar estão à disposição, mas nem sempre deixar o hábito é fácil. “Embora as pessoas conheçam os prejuízos do cigarro, sobretudo para a saúde cardiovascular, parar é uma decisão difícil, deve haver muita força de vontade para a mudança de atitude”, afirma Luiz Agnaldo Souza.
Ansiedade e estresse – Fumante desde a adolescência, o corretor de imóveis Caio Santana, 31 anos, conhece a dificuldade de parar de fumar. “Como todo fumante, sei do mal que estou fazendo à minha saúde, mas o cigarro causa um tipo estranho de bem estar, não sei explicar”, afirma. Apreciador de uma cerveja gelada, é nos finais de semana, quando bebe, que o consumo do cigarro aumenta ainda mais, confirmando a teoria de que álcool e tabaco andam quase sempre juntos.
Para a terapeuta ocupacional Valdete Soares, fumar estava associado principalmente ao estresse. “Quando ficava muito ansiosa, fumava”, afirma ela ao reiterar a máxima de que o estresse é um dos principais gatilhos para o tabagismo, já que acaba funcionando como uma válvula de escape para situações de dificuldade. Ex-fumante há dois anos, ela também é prova de que, com determinação, é possível parar com o vício.
“É esperado que, conforme o grau de dependência, variável em cada indivíduo e relacionado ao número de cigarros consumidos por dia, alguns tenham grande dificuldade para iniciar o processo de ficar livre do tabaco. Entre os métodos utilizados, existem os de redução gradual e os de parada radical. Vale ressaltar que em alguns casos podem existir agitação, ansiedade, nervosismo e outros sintomas de abstinência nos primeiros dias sem cigarros. Porém, as dificuldades tendem a diminuir a cada dia”, tranquiliza o doutor Luiz Agnaldo Souza, ressaltando que o apoio da família e amigos nesse processo é fundamental para que o resultado seja positivo. “Por se tratar de uma dependência, a dificuldade do fumante não se limita a apenas ter força de vontade, é preciso ir além e conseguir combater as mudanças orgânicas causadas pelo cigarro no organismo”, destaca.
Existem graus de dependência e o tratamento deve ser direcionado. No grau mais moderado, uma simples mudança de rotina e hábitos mais saudáveis aliados à prática de exercícios já ajudam a largar o vício. Para aqueles com grau mais elevado, o tratamento com medicamentos alivia muito o desconforto e auxilia no abandono do vício.
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