quinta-feira, 22 de setembro de 2016

SÉTIMA ARTE EM DESTAQUE: QUANDO AS LUZES SE APAGAM



POR GABRIEL JOSÉ
Estudante de Cinema da UESB

Existe um gênero com ingredientes básicos que garantem um “caminho das pedras” para a satisfação do seu público-alvo? Se a resposta for afirmativa, o terror é o grande exemplo (embora o romance, hoje, esteja quase no mesmo patamar). “Quando as Luzes se Apagam” os conhece e os utiliza razoavelmente bem. O que não é exatamente uma virtude.

A ideia partiu de um curta-metragem, que é muito bom. O curta explora o medo do escuro, banal na infância, a partir de um enredo minimalista, que é justamente o fundamento do seu êxito. Já para um longa-metragem, é preciso um roteiro mais elaborado, onde reside a grande falha do longa. De um lado, um drama familiar: Rebecca se afasta da mãe louca e do irmão pequeno, porém, ao descobrir que este comunga do medo do escuro que ela também tinha na infância, decide investigar a relação entre esse medo e a mãe dos dois. De outro, um emaranhado de obviedades, previsibilidades e incoerências – que serão mencionadas de forma superficial para evitar spoilers.



O prólogo é promissor, provavelmente detentor dos momentos mais assustadores – até por ainda não ter a fundamentação, isto é, a pretensão de lógica, que o plot (finge que) formula no decorrer da narrativa. Contudo, dois momentos, presentes já no primeiro ato, são fatais: o primeiro ocorre entre o garoto Martin e sua mãe Sophie, permitindo algumas conclusões; o segundo se dá quando Rebecca descobre informações sobre o passado da mãe. Tudo é entregue com facilidade, não apenas conduzindo o filme à previsibilidade como facilitando a percepção das várias inconsistências. É bem verdade que roteiro não costuma ser o forte dos filmes de terror, todavia, são tantos pontos obscuros, contraditórios, duvidosos ou omissos que eles eclipsam os momentos de susto.

A ideia de embasar a narrativa em um drama familiar é interessante, entretanto, a tarefa é feita da maneira incorreta, vez que as explicações são sucintas em demasia, não atingindo o objetivo de dar profundidade. Isso tudo sem contar a justificativa dos eventos paranormais, que exige uma ingenuidade insana para se comprar – especialmente por dividir-se entre a metafísica inverossímil do presente e a plausibilidade do passado, não fincando as bases em nenhum sentido. Talvez explicar o inexplicável não tenha sido uma boa ideia. A própria concepção da entidade paranormal é equivocada: com um visual que remete aos dementadores de “Harry Potter”, suas habilidades a tornam praticamente invencível – teletransporte (que a torna onipresente), super-força (exceto quando o braço fica preso numa porta, afinal, portas deixam fantasmas vulneráveis) e intangibilidade, como em relação a projéteis (lembrando a exceção da porta). Com tantos poderes, nem mesmo a Liga da Justiça (presente em um pôster no quarto de Martin) a venceria. Porém, não se pode negar o desenvolvimento narrativo com apresentação, desenvolvimento e conclusão bem delineados.

Não obstante, para um primeiro trabalho, David F. Sandberg é um diretor promissor. Faz o básico, notoriamente na direção de arte (cortinas fechadas e casa escura é o mínimo exigível), e segue o script manjado dos filmes de terror, que funciona com o espectador desatento que quer dar pulos na poltrona (montagem abrupta, som alto repentino e movimentos bruscos). Isto é, estão lá todos os clichês do terror: personagem puxada para debaixo da cama, coincidências absurdas (objetos em local e momento certos, lâmpadas falhando constantemente etc.), heróis que se separam para enfrentar a entidade, armadilhas óbvias e assim por diante. Para o público sedento pelo terror dos moldes tradicionais, o produto é satisfatório.

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