sábado, 25 de junho de 2016

CAUSOS DE ADVOGADO: SÃO JOÃO PASSOU AQUI?????




Por Gustavo de Magalhães 
Advogado - gustavodemagalhaes@hotmail.com

O cheiro de pólvora no ar, barulhos de estampidos e outros mais graves ao longe… não tenho duvidas… é um tiroteio… não… desculpe-me… não podia perder a piada. São João passou por aqui? Era a pergunta senha que se fazia antigamente nas portas de casa. Conhecidos ou não, bastava perguntar e a resposta seria um sonoro simmmm, que se seguiria a amendoim, muito licor, canjica, pamonha, carne, tubaína, guaraná Fratelli… >

Minhas maiores lembranças de São João, me remetem a Ubaitaba, minha terra natal. Ops! Quase nunca digo isso, e afirmo sempre que sou de Ilhéus, porque é mais chique, terra da Gabriela, de Jorge Amado, enfim. Já em Ubaitaba, referencias de nomes assim famosos são da canoagem olímpica, talvez. Mas óbvio que é uma pilheria, e tenho orgulho de ser ubaitabense. Ainda mais que, antes mesmo de existir Ibicuí, Amargosa, Itiruçu, festa de São João era sim em Ubaitaba!


Ubaitaba fica ali, no sul da Bahia, quase indo para o baixo sul, nas margens da BR 101, do outro lado da ponte, e no lado de lá tem Aurelino Leal, outra cidade, mas que parece a mesma. Ficou fácil achar, né?

Naquele ano, minha tia Mariá alugou um restaurante, para acolher a todos que ia pra lá. “Homem dorme até em pé, mas mulher tem que dormir deitada”, dizia ela, e mandava espalhar os colchonetes no restaurante vazio, e se não quisesse pisar em alguém na madrugada fria, voltando para casa, tinha que ter cuidado. Começava a noite com vinte a vinte e cinco sobrinhos e agregados, e amanhecia o dia com uns trinta e cinco a quarenta, arrebanhados nas festas. Mas todos dormiam, e comiam… muito! Lembro bem dela acordar na madrugada, chamar as empregadas, naquela época várias, e a qualquer hora abastecer os meninos. Canjica (não a de Conquista, que é a branca, que conheço por munguzá, mas a de Ilhéus, a de cortar, a amarela), mingau de milho, milho verde, amendoim, e carne de porco assada… é ou não é um paraíso para um gordinho como eu?

De minha casa tinham ido três carros, inclusive meu pai, ainda vivo e minha mãe, todos os filhos, os agregados, e ainda um primo, e tralhas, muitas! Alguém acha mesmo legal viajar cheio de coisas? Ventilador, panelas, colchão, meninos, etc.? Tem aqueles que ainda levam o cachorro!

Quem leu meu ultimo causo sobre acampar, já imagina meu trauma antigo e que sou mais um belo de um hotel, do que essas atividades perigosas, muito! Só desmontar aquela confusão, já era fim de festa.

De volta a Ubaitaba, já na praça principal, eu como sempre acompanhando os mais velhos, eu o pirralho gordinho. A praça cheia, naquele ano a família toda estava por lá, muitos primos e amigos, então eram quase todos conhecidos.

A brincadeira então era garantida. Sentados no banco, eu, meu irmão, um primo e um cunhado. Eu como escudo, gordinho e largo, já desde pequeno, fiquei no meio, e por baixo do banco soltávamos um rojão que nunca mais eu vi, de apenas um tiro, perfeito para o momento. Não machucava, mas dava um bom susto.

Na hora que estourava, todos do banco, até eu, o mais lentinho, nos virávamos para trás como se fosse uma bomba vinda de outra pessoa, ou que jogasse por cima de nós.

Então era quase uma pegadinha do Faustão. Varias vitimas, sentavam nos bancos da frente, e ganhavam um estampido na orelha. Estava bem divertido. Um tiro apenas, um susto enorme, sem machucar (muito!), e quando o coitado se virava nos quatro nos virávamos assustados procurando o autor daquele abuso! Não se faz!

Mas não contávamos com o que estava por vir, por conta da leia da ação e reação.

Talvez pela certeza da impunidade, esquecemos que a praça estava cheia, e que outras pessoas viam nossa arte, menos os incautos que atacamos.

Num desses vacilos, não observamos, que havia um amigo, ou inimigo, a depender do ângulo, que se aproximava de surdina, contando com a nossa distração, e munido com uma famosa “bomba de dez”, que nos, os mais velhos bem conhecemos, e que mudou de acordo com o tempo e desvalorização da moeda, mas sempre é grande e temida, ascende a mesma e arremessa por baixo do banco onde estávamos.

Essas misérias só estouram fácil assim quando não somos nos que jogamos, não é verdade? Quando eu jogo (hoje traque, porque morro de medo depois desse episódio), o bicinho demora de estourar, e quando acontece, é só aquele estampido fraco. Mas naquele dia não, a bicha era poderosa, bem amarrada, bem socada, não quebrou a regra que somente com os outros funciona bem. A danada pipocou forte, estourou bem embaixo do gordinho (sempre ele), e eu parecia que tinha sentado num fogareiro, com um uma turbina de boing 707 debaixo do banco, pois levantei vôo, com os quartos queimando, as pernas ardendo, e o tuiiiiiimmmmmm no ouvido sem parar.

Naquele momento acabou a graça, perdi o gosto por cheiro de pólvora e pelos estampidos das bombas.

Mas quer saber? Ainda tinha as comidas da estação pra me fazer amar a festa. Coisas de gordo.

E a pergunta então que não quer se calar: São João passou por aqui?

gustavodemagalhaes@hotmail.com  whatsapp 77 99198-2859

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