Gustavo de Magalhães
Advogado - gustavodemagalhaes@hotmail.com
É difícil nesses dias atribulados pelos quais passamos tentar fazer rir com meus modestos causos, por isso dei aquela paradinha de escrever, mesmo porque eram dias que eu achava os amigos que me dão a honra de ler essa coluna, estavam mais interessados em matérias políticas, notícias de Brasília, essas coisas que nos fazem desacreditar nos políticos, que elegemos para defender nossos direitos, mas nunca no poder que emana do povo, e que deveria ser exercido para o povo.
Fiquem calmos, que não vou entrar nessa seara, mesmo sendo muito engraçada, não tenho veias de comentarista político.
Mas nesses dias que não contei meus causos, de forma prazerosa (porque existem as cobranças que não dão menor satisfação, e corro delas), fui cobrado por gentis amigos sobre nossos causos. Incrível a amplitude desse tipo de mídia, e ai, nesse ponto dou os parabéns ao Blog do Anderson, que se não for o mais visto, é um dos mais na Bahia, porque fui cobrado não somente por amigos da cidade como de outras cidades, a voltar a contar nossos relatos. Na rua me param conhecidos e não conhecidos, perguntando dos causos e até sugerindo os temas. Nesse momento pagar um débito, mandando um olá para o Bruno, rapaz da churrascaria que sempre cobra os causos. Ai Bruno, valeu a força.
Enfim, férias, me lembram os tempos de infância. Sim, porque essa historia de ser advogado e autônomo me podou o direito a férias, a descanso, etc., então agora quando velho, só lembrando o passado. Apesar de terem inventado recentemente umas férias de advogado, onde os prazos são suspensos. Eu já espero então o décimo terceiro de advogado, o fundo de garantia de advogado, e outros direitos.
Tive que parar de escrever, porque o entregador de pizza me ligou perdido, e me pediu referencias de minha casa. Expliquei que na esquina da minha rua tem um prédio grande, novo, de cor clara. E ele confirma: “haaa simmmm, um prédio grande cheio de janelas…??!!”
Obvio que tive que conter a minha crise de risos ao fone, como até agora contando estou tendo. Tinha que estar aqui, não é verdade?
Eu ainda era garoto, século passado, todos os irmãos mais velhos, e acho que para me socializar mais (sendo gordinho, criança é mais difícil!), meus pais faziam meus irmãos saírem comigo, mesmo com uma grande diferença de idade entre a última irmã e eu.
No final, comecei a minha vida de rueiro, notívago, bem cedo, mas por força das circunstancias, nem tanto por vontade própria.
Nunca imaginei, e agora me dei conta que talvez fosse castigo para meus irmãos, ter que me carregar a todos os lugares.
Conto agora uma experiência traumática, que me fez ter uma visão completamente radical contra uma prática que era muito comum antigamente, e que ainda ocorre, e muitos são adeptos e propagam os pseudo benefícios desta modalidade: acampar!
Não se iludam, aqueles que nunca o fizeram, será a pior experiência de suas vidas!
Ninguém me convence talvez pelo que passei, que dormir no chão frio, ao lado de um monte de insetos, e bichos do mato, fazendo xixi e numero dois no mato, rio ou mar, seja algo bom. Não tentem me enganar que não ter fogão, e ter que usar aqueles fogareiros de álcool que fazem um café levar séculos pra ser feito, seja algo agradável. E quando ainda fazem isso sem luz, sem sinal de celular, sem internet!!!!! Bom pra quem isso?
La se vai eu, meu irmão mais velho e um primo para acampar no Cururupe, em Ilhéus. Era aventura pura na época, quando nem tinha estrada asfaltada para chegar ao local.
Para alcançar o local certo ao lado do rio, tínhamos que atravessar o mesmo e o gordinho quase fica, afundando na areia movediça que até hoje tem no local. O pesinho do cidadão fez a areia parecer mingau. Sorte que o irmão me puxou.
Armar uma barraca de acampamento é uma tarefa de pessoas especializadas, treinadas, que o QI seja elevadíssimo, junto com paciência adquirida nos montes tibetanos com anos de reclusão. Não e meu caso.
Sem banho quente e sem banheiro, é uma assadura que dá, que faz você perder a vontade de viver. A noite chega e os mosquitos começam a empurra a lona da barraca; unidos fazem forma de faca e cortam a mesma, e atacam sem dó. Não tem repelente que iniba um mosquito do mato.
O café ainda estava sendo feito, aquele desde o começo do causo, e alguém teve a idéia de fritar a carne seca sem aferventar, porque a mesma ficou exposta a chuva da tarde. Obvio que na frigideira, que substituiu a água de café que não conseguiu ferver, ficou só a salmoura!
Tenho que tomar água economizando, porque água de beber é pouca, mesmo que sua língua esteja partida em milhões de pedaços, cortada com o sal, e que você tenha a nítida impressão que tem uma pedra de sal grosso debaixo da língua.
Hora de dormir, e os demais foram curtir a noite com os companheiros de acampamento. Eu, o irmão menor, não tinha parceiros de minha idade e odiava rodas de violão do lado da fogueira.
Deitar numa barraca significa ouvir todos os movimentos da terra, todos os bichos passam por baixo da lona, e fazem efeitos sonoros os mais diversos. Sempre terá uma barata d’água, que não é aquela conhecida e enojada, mas é uma barata. Sempre terá alguém que diz “mas é uma barata d’água…”, como se fosse ajudar, pois afinal, é uma barata!
Os mosquitos continuavam o ataque, e os braços já pareciam o monte Everest, com calombos enormes de picadas. Não tendo luz, tem sempre uma lanterna, única diversão para uma criança de oito para nove anos de idade, com a língua salgada. Esqueçam TV, radio, e na época sem celular, internet…
La pelas tantas, ou melhor, qualquer vinte horas é madrugada, no breu do mato, sinto uma movimentação estranha, que faria enterrar meu conceito sobre acampamentos. O som era estranho, forte, um fungar estranho, com sons de muitas folhas pisadas, galhos quebrando, e cada vez mais próximo a barraca. A lanterna já com pouca bateria, quase não iluminava; o medo fazia a boca ficar mais seca do que já estava; já não tinha coragem, e naquelas circunstancias, menos ainda.
Comecei a tremer e a tentar chamar o irmão, que certamente, animado pelos papos, não me deu a mínima.
Aquela coisa se aproximou mais, e assustadoramente a sombra parecia maior que a barraca, o que me aterrorizava a ponto de não entender que era a luz de fora que fazia a sombra dentro da barraca ser maior do porco, que era, enfim tão terrível animal.
Eu já berrava e nada, dava sinal de luz, SOS, e o bicho enorme, perigoso, nem se mexia, e certamente nem me ouvia, nem sabia da minha existência, e morreu pururuca sem saber que me meteu tanto medo. Mesmo porque, pela reconstituição em minha memória com o passar dos anos, fui entender que na verdade ele, o torresmo, estava a alguns metros da barraca e o que eu vi era sombra dele na contra luz.
Enfim o irmão entrou na barraca, já esbaforido. “O que foi?”. Contei o ocorrido, e ele, como na historia da barata d’água acima descrita, afirma desdenhosamente. “Ahhhh… era somente um porco”!
Mas era O PORCO!
Acabou minha experiência na manha seguinte, fui colocado num carro a caminho de casa, e nunca mais me chamem para algo tão aterrorizante e sem noção como acampar. Acampar efetivamente é para os fortes!
Por fim, agora Bruno amigo da churrascaria, quero um bom desconto hein! gustavodemagalhaes@hotmail.com whatsapp 77 99198-2859
Nenhum comentário:
Postar um comentário