POR GUSTAVO DE MAGALHÃES
Advogado - gustavodemagalhaes@hotmail.com
Nesses meus vinte e seis anos como advogado e militante dos fóruns da vida (fora os demais quando ainda era estagiário lá com Doutor Ariston Cardoso, na OAB ou com meu amigo competentíssimo Jorge Cajueiro, colega de Ilhéus e Juracy Cardoso, que não está mais entre nós, primeiros a acreditarem em mim como advogado e já estava envolvido com o direito), conheci muitas figuras peculiares, que participaram diretamente de minha formação como profissional e como homem, sempre afirmando que sou feliz, porque vivi muito, e muita coisa boa deixo de historia. Leia mais.
Um dia desses, eu vi por aqui em Conquista o Doutor Valtércio, que tanto tem aparecido nos meus causos. Um excelente juiz do trabalho, hoje no tribunal de segunda instancia, que espirituoso, sempre rendeu bons causos para minha coleção.
Ai, ao revê-lo, lembrei do tempo, no século passado (verdade… constatei que foi realmente no século passado e somente tenho a dizer: afffff… to velho!), quando existiam juízes classistas na junta de conciliação e julgamento, hoje substituídas pelas varas do trabalho.
Pensei agora, então, que a maioria dos que vão ler isso, nem sabiam da existência de tais, e, eu vou me aprofundando na minha velhice, e declarando isso publicamente, melhor parar de explicar. Mas, em breve explicação para que nos localizemos, era onde antigamente se realizavam as audiências trabalhistas. Nos prédios das juntas de conciliação, ficavam os reclamantes, empregados insatisfeitos com os seus empregadores, patrões. E naquela época não tinha sonorização e nem muito menos computador, e os registros das audiências era na maquina de escrever, algo também que vai me fazer confessar a idade, e mais uma vez um sinal de “se toque coroa”, esta piscando em vermelho!
Mas, enfim, esse causo não é sobre minhas rugas e minhas primaveras, e sim dos juízes classistas. Esses eram escolhidos entre os sindicatos, um de cada lado, patrão e empregados, e dos que conheci, os mais atuantes, que ate sentença prolatavam (davam decisões, mesmo não sendo juiz de verdade, só no nome do cargo), estavam aqui em Vitória da Conquista (Rivadávia e Gilmar) e um, que me falhou a memória do nome, em Teixeira de Freitas (acho que Mário). Em contrapartida, como eram oriundos e escolhidos de pessoas simples, muitos despreparados, ingênuos, manipuláveis (não os citados aqui), alvos fáceis para o piadista, nosso herói.
No comando de Doutor Valtércio, havia uma espécie de batismo do classista novato. Quem fazia o pregão, chamar as audiências no gogó, no berro, eram eles, pra tentar até mesmo um acordo ates de entrar na sala e acontecer as citadas audiências, e muito se resolvia por insistência destes.
Era, então, pelos corredores do fórum, que aquele novato saía chamando, gritando por aquele reclamante que o juiz havia mandado entrar na sala. É o chamado pregão.
Era uma tarde bem quente lá em Ilhéus, e o sono de todos aumentava junto com o tlec, tlec, tlec da maquina de escrever (só os maiores de quarenta saberão do que falo), e acho que instigou ao nosso amigo juiz a promover um pouco de risos no local, para quebrar aquela letargia.
Aquele rapaz naquela primeira vez como juiz classista, por certo empolgado com o pomposo cargo, foi especialmente premiado, e entrou para os anais da historia e deu esse caso cômico. A mando do juizão, detentor de uma respeitosa cabeça branca, super sério, em verdade uma figuraça, foi cumprir seu mando, e partiu em busca do reclamante que não entrou para a audiência, e não entendeu ou não se apercebeu porque o fazia, sob arisadaria geral dos que estavam no local, esperando suas audiências e da mesma forma não entendeu os rostos ruborizados das senhoras (era ainda uma época que nos assustávamos com certas coisas e principalmente expressões).
Depois de dar uma volta inteira no prédio, berrando à todos pulmões, o nome do pseudo reclamante, o nosso novato, decepcionado por não ter cumprido sua primeira tarefa, retorna à sala e, suspirando chateado informa: “Doutor Valtércio, rodei o prédio todo chamado, gritando já, e não encontrei o reclamante: Jacinto Aquino Rego…”.
Não encontrou, mas valeu mais um causo. (gustavodemagalhaes@hotmail.com whatsapp 77 99198-2859
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