domingo, 15 de novembro de 2015

CAUSO DE ADVOGADO: PROBLEMAS COM IDENTIDADE



POR GUSTAVO DE MAGALHÃES

Fiz terapia antes de fazer minha cirurgia bariátrica, e descobri três graves problemas. O primeiro grande problema: não sei o valor do dinheiro, o que significa que, tanto faz, que eu ganhe dez mil como cem reais, fico feliz do mesmo jeito (abro um parêntese para afirmar aos que me devem, que esse defeito não funciona para o caso). A segunda constatação, é que sou gordo, cabeça de gordo, adoro comer e amo comida! A terceira e última, que tenho problemas sérios com minha identidade. Quando eu era mais gordo, não tinha como ser confundido com ninguém. Afinal, era uma referencia. Gordo deixa de ter nomes. Exemplo: “onde está fulano?” “Fulano está ali, do lado daquele gordo”! Outro Exemplo: “quem é Gustavo?” “É aquele advogado gordo”! Nesse caso, vira sobrenome. 

Enfim, constatado esse problema, imagine-se caro leitor, você no auge de sua juventude, com seus dezesseis anos, rueiro, festeiro, mesmo com todas as dificuldades de mobilidade, entrar numa festa no Barril 1500, casa de shows conhecida da cidade da Gabriela, o que acontecia somente pagando, e não era minha especialidade pagar, recém adentrado na FESPI, hoje UESC.

Não havia a possibilidade de se fazer como os amigos, que chegavam à porta e diziam, “olha, eu estava ai”, e não sei porquê, com desculpa tão besta, conseguiam entrar. Eu tentava, e era risório, pois, com aquele corpão e com aquela cara de menino pidão, nunca consegui enganar nenhum porteiro de festa.

O jeito seria qual? Pular a cerca!!! Solteiro, poderia mui bem pular todas as cercas, e naquele dia, me sentia confiante, quase um acrobata de circo, e certo de que meu intento seria alcançado.

Eram uns quinze adolescentes, todos ávidos para assistir banda Reflexos (“eu falei faraó – ó – ooó”), todos lascados, sem grana, mal dava para o guaraná.

Liderados por um deles, o Iga, o mais astuto, esperto, fomos levados e decididos a invadir a casa de show pelos fundos, pelo mato, literalmente, com mangue, bananeira, morcego e demais obstáculos. Dez minutos de caminhada dentro do mato, o faraó ia e voltava de tão longe que fomos, para, enfim, encostarmos na cerca dos fundos da casa. Transpor aquele obstáculo, fácil… bastava apenas subir, esperar o vacilo do armário segurança que ali estava, e pronto. Show para dentro!

Fácil? Mas não quando você pesa cento e parara quilos!

Um a um os amigos foram pulando, e eu ficando para o final, acompanhado apenas da lua (até ela me traiu).

Todos pularam, e eu, aquele que sobrou lógico.

Quando me aprumei para efetuar a transposição da penumbra para a felicidade, me animei, eis que o arame farpado cedeu ao meu peso, o que até facilitou pular a cerca. Porém, existe uma relação inversa entre peso da pessoa e silencio, e ao cair do outro lado, devo ter provocado um abalo sísmico, de magnitude 4.5 na escala, o que fez com que o segurança se aproximasse da cerca, de costas para mim. Ufa! Eu como uma pedra enorme, imobilizado e estático esperei que esse saísse do local.

Longos minutos se passaram, e já com as pernas dormentes (gordo tem isso, adormece tudo), não aguentei mais, e tive a brilhante ideia. Fiz menção de levantar-me já com as calças arriadas, pois, a saída era que estava realizando minhas necessidades, ou melhor, soltando o barro, como diria no popular!

Seria perfeito, pois ele se me visse, não teria coragem de se aproximar, com receio do fedor local. Aquele desgraçado não tinha olfato, ou então meu disfarce não foi bom!

Já me levantei com as calças arriadas (repito para que seja fácil a figura dantesca do momento), com ele me pegando pela gola da camisa, como se um cabide fosse, e eu mesmo enorme, jazia solto em suas mãos de segurança de carnaval de Salvador. Já esperando tapas, eu implorava “não amigo, eu estava no mato, dor de barriga da zorra, vim correndo”. Resposta sutil, “gordo filho de uma mãe, tu pensa que sou besta?!”; “não senhor”, foi a resposta, ao contrario, besta sou eu, pensei.

Já preparado para levar uns cascudos e uns safanões, estou sendo arrastado para fora da festa, quando vem um segurança local, meu amigo, de longos papos quando eu ficava barrado na casa, e pede como meu advogado, para que aquele brutamontes me liberasse, e ainda afirma, “deixa o gordinho, ele é gente boa”.

“Olha gordo, vai embora, vou deixar você entrar, mas não pense que sou idiota não, que você não estava aqui dentro de jeito nenhum!”.

Juro que nunca gostei tanto de ser chamado de gordo, e fiquei no lucro, pois entrei no show, e ainda constatei desde então que eu era único, inconfundível e inigualável !!! (gustavodemagalhaes@hotmail.com, whatsapp 77 991982859)


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