quarta-feira, 3 de junho de 2015

SÉTIMA ARTE EM DESTAQUE: CASA GRANDE




POR GABRIEL JOSÉ
Estudante de Cinema da UESB

Você já se viu no Cinema? Eu me vi nesse filme, vi um Gabriel de uns tempos atrás, representado pelo personagem Jean, aquele típico adolescente, em fase de descoberta das coisas da vida , o Gabriel que aqui vos fala, mudou com o tempo, os problemas, mudam, os anseios são outros dos que são vividos por Jean , mas a essência é a mesma  identificação com ele foi absurda. Direi aqui sem nenhum pudor, alguns vão criticar depois, mas afinal é o que estou fazendo, uma critica, e digo com tranquilidade, Casa Grande é um típico Boyhood brasileiro, e quer saber? Muito melhor que a obra de Richard Linklater, o que não me identifiquei com Boyhood, me identifiquei com esse filme excelente, do diretor Felipe Barbosa.

O Cinema tem seus milagres, e Casa Grande, é um desses milagres, que pode se dizer uma das maiores realizações do cinema brasileiro. O filme é um excelente estudo sobre a sociedade brasileira, extremamente realista, você ver a sua realidade na tela, seja o que você , vive atualmente, seja o que você já viveu. No início dos créditos finais, vemos uma dedicatória: ´´Aos meus pais, meu irmão e minha irmã ´´, não deixa de ser uma ironia quase cruel, do tema do filme , Felipe Barbosa com seu filme, não quer apenas criticar, mas também refletir sobre problemas que o próprio viu de perto.


Casa Grande conta aTrajetóriade Jean um adolescente de  17 anos, escola e vai prestar vestibular. Seu pai está desempregado e o nível de vida da família começa a sofrer consequências, tanto que precisam cortar despesas e demitir empregados. Paralelo a isso, ele está ansioso para engatar um namoro mais duradouro e ter relações sexuais com a companheira. Mas, a garota que conhece é outra classe social, criando alguns atritos com sua família. Fellipe Barbosanão chega a construir um roteiro com uma narrativa clássica, mas há pontos facilmente identificáveis da trama de Jean e sua família. E tudo isso se constrói em um antagonismo bastante claro entre pai e filho. Hugo, o pai vivido por Marcelo Novaes, não consegue admitir a perda do poder aquisitivo, imbuído em seu orgulho. Já o filho não consegue entender o pai, se revoltando com o silêncio e as mentiras que vão sendo contadas.


Jean também tem na arrumadeira, Rita, sua confidente. É para o quarto dela que ele foge diversas noites para conversar sobre sentimentos e desejos, criando, inclusive, intimidades, mas sem que cheguem a uma relação sexual. É interessante perceber como a direção nos mostra um Jean muito mais a vontade no quarto da empregada do que com sua namorada, por exemplo. Há uma construção de intimidade na postura dos dois, nos gestos, na forma de conversar, que não vemos com a garota.

Aliás, a personagem de Luiza surge mais para criar conflitos que para apaziguar a vida do garoto. Com ela, preconceitos momento que acaba tornando todas as atitudes um tom acima do natural que vinha sendo conduzido o filme.

De qualquer maneira, é interessante como a câmera de Fellipe Barbosa adentra aquele mundo. Olhando de fora, mas com uma intimidade quase instantânea. Apesar de um olhar mais próximo de Jean, temos escolhas de planos e ângulos que muitas vezes nos mostram o ponto de vista dos pais, ou mesmo da irmã, quase ignorada por todos. Na cena do vaso, por exemplo, é com ela que nos identificamos, principalmente pelas pistas anteriores.

Pelos olhos de Jean vemos uma família classe alta falindo aos poucos. Como este menino superprotegido convive neste Rio de Janeiro atual e o que ele pensa da vida.

Tem momentos muito bons. Achei um trabalho bem finalizado – montagem, edição e roteiro bem aprumado.

Um retrato realista da atual sociedade brasileira que sem exageros ou eufemismos, foca, através de uma direção humana e refinada e excelentes atuações, vale ressaltarmos problemas sociais tão presentes no nosso cotidiano, como a tão assustadora época dos vestibulares, as cotas raciais, desigualdade social, segurança, entre diversos outros. Pinta esses quadros das contraditórias realidades brasileiras com fidelidade, aliás, realidades tão diversas entre si e faz o espectador refletir sobre o discurso proposto pelo roteiro simplista e tão repleto de informações que nos cercam a todo instante.




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