POR GABRIEL JOSÉ
Estudante de Cinema da UESB
Há muito tempo não se via um roteirista que fizesse tanto sucesso como Charlie Kaufman. Muitos dizem que ele as vezes chama mais atenção do que o diretor e até o próprio elenco (apesar de ter apenas 5 anos de carreira). Alguns artistas como Nicolas Cage e Meryl Streep cobram um cachê baixíssimo para participar de um filme com roteiro de Kaufman. De fato ele é o gênio do roteiro de sua geração. Ele criou obras de arte como ‘Quero ser John Malkovich’, o premiado ‘Adaptação’, ‘Natureza Quase Humana’ e ‘Confissões de uma Mente Perigosa’.
Joel (Jim Carrey) e Clementine (Kate Winslet) formavam um casal que durante anos tentaram fazer com que o relacionamento entre ambos desse certo. Desiludida com o fracasso, Clementine decide esquecer Joel para sempre e, para tanto, aceita se submeter a um tratamento experimental, que retira de sua memória os momentos vividos com ele. Após saber de sua atitude Joel entra em depressão, frustrado por ainda estar apaixonado por alguém que quer esquecê-lo (de fato ela esquece). Decidido a superar a questão, Joel também se submete ao tratamento experimental. Porém ele acaba desistindo de tentar esquecê-la e começa a encaixar Clementine em momentos de sua memória os quais ela não participa.
O filme mexe com você. Ele trata de uma história que pode acontecer com qualquer um. Tudo bem, concordo com você que essa clínica de apagar a memória é imaginária, mas o ponto que estou tentando tocar é o fato de ‘levar o pé na bunda’. Quem nunca levou um pé na bunda? Pois é, mas no filme, a história começa diferente. Joel (Jim Carrey) está num dia diferente do normal. Cansado, sem motivação e com o astral lá em baixo. Isso é um fato comum, principalmente nos EUA quando está próximo do “Dia dos Namorados”. Algumas reflexões brotam no pensamento como: “hoje é um feriado inventado pelas companhias que fazem cartões para fazer as pessoas se sentirem um lixo” (palavras de Joel no filme). Ele é como muitos homens que acham que qualquer pessoa que dê um pouco atenção, seja um cumprimento ou até mesmo um “olá” simpático, está querendo algo mais. Joel é do tipo que se apaixona fácil. Imagina quando uma pessoa diz um “olá” sorrindo. Por isso que ele diz no filme: “Por que eu me apaixono por toda mulher que vejo e que me dá um pouco de atenção?”. Bem, continuando com a história, ao invés de pegar o trem e ir para o trabalho, ele acaba fugindo da estação e corre para outro lugar, Montauk. Nesse local ele encontra a louca e impulsiva Clementine (Kate Winslet). Eles trocam algumas idéias, mas, Joel que é introvertido, não consegue desenrolar muito na conversa. Porém, no final das contas, ele acaba se soltando das amarras da timidez e começa a construir uma conversa agradável. Dai por diante eles constroem além de uma ótima amizade, um relacionamento agradável para os dois. Eles se divertem, são confidentes e sempre estão juntos.
Como todo começo de um relacionamento, existem as idas e vindas. No final das contas, eles acabam juntos. É a partir desse momento que começa a complicação. Todos os relacionamentos existem brigas e discussões, que na maioria das vezes é por futilidade ou por uma palavra dita que saiu mal interpretada ou que saiu “sem querer”. Apesar de impulsiva e completamente louca (no sentido de agitada), Clementine continua no relacionamento. É quando chega um momento na qual ela fica muito irritada (e realmente era pra ficar) e decide acabar de vez com esse relacionamento. Numa atitude precipitada ela decide então procurar uma clínica (que me parece clandestina) que apaga certos momentos de sua memória. O processo funciona da seguinte forma: a pessoa deve recolher tudo que esteja associado com quem ela quer apagar da memória. Qualquer coisa. Fotos, roupas, presentes, livros que ela comprou, cds que compraram juntos, diários e etc. Eles usam esses itens para criar um mapa da pessoa que vai ser apagada no cérebro de quem quer apagar.
Joel não sabia que ela havia feito isso, “deletado ele da sua cabeça”. É então que ele decide ir atrás dessa clínica. Quando Joel tem o primeiro contato com o doutor, ele resume tudo dizendo: “É o bastante dizer que a Srta. Kruczynski não estava feliz e ela queria seguir em frente.” Essas palavras foram capazes de destruir o sentimento de Joel. É então que ele decide fazer o mesmo. Só que durante o processo, ele acaba vendo que não era aquilo ele realmente queria. É ai que entra a genialidade do roteiro que não vou fazer o papel carrasco e destruir toda a surpresa que o filme reserva para você. Jim Carrey está em seu melhor momento. Antes eu tinha na cabeça que o melhor filme dele era ” O Show de Truman “, mas, depois de assistir a esse brilhante filme, mudei de opinião. Ele está fantástico. Carrey é um exemplo de artista que não se prende a um gênero e morre nele. Conseguiu abordar quase todos os tipos de personagens durante sua carreira, principalmente comédia, mas seus melhores filmes são os dramáticos. Que interpretação fantástica! Kate Winslet (“Titanic”) conseguiu superar expectativas. Eu particularmente nunca gostei dela, mas a partir desse filme eu mudei um pouco de opinião (apesar de ainda receoso). Talvez o talento de Jim Carrey e o roteiro de Kaufman tenham dado liberdade para a atriz mostrar seu talento. No papel de Clementine ela mostra competência e uma ótima aparência, apesar de seus estranhos cabelos coloridos.
No mais, você pode conferir esse filme com mais absoluta certeza que sairá satisfeito. É uma verdadeira obra de arte. Bem produzido, bem dirigido, bem roteirizado e com interpretações no mais alto nível. É um clássico. Merece todas as congratulações, e esse humilde editor não poderia deixar de dar um merecido 10 a essa obra prima.
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