Historiador
Creio que foi o Roland Barthes quem disse que a morte de alguém que devotamos respeito e carinho e compartilhamos alegrias nos impõe um silêncio sôfrego, sequioso e malsofrido. Mesmo assim, prossegue Barthes, énecessário ir adiante porque a vida prorrompe — ainda que em soluços.
Pois bem, para mim o fechamento do Cairo Center é como a morte de alguém querido. Pois, foi lá que comprei a maioria dos meus livros. Lá encontrei-me com Florentino Ariza, com o doutor Fausto, Cubas e tantos “loucos” com suas elegias e suas tragédias pessoais e eternas.
Também, no Cairo Center, encomendei grande parte dos livros que me acompanharam na Universidade.
No Cairo descobri o gosto pelos “livros de verdade” e pelas biografias. Agora mesmo, fui à estante e apanhei uma das primeiras que li, aquela famosa do Daniel Halévy sobre o Nietzsche, e, curiosamente, abro no lindíssimo poema que Lou Salomé escreveu para o “tórrido” filósofo e que é dedicado à dor.
“E seria bela a vida sem ti”, diz o quarteto final do poema para concluir logo em seguida: “Mesmo assim — também tu mereces ser vivida”. Sim, a dor merece ser vivida; mas, por quê estes descosidos? Por quê o Cairo há-de ser, de agora em diante, uma sombra solene em nossa memória (e que ainda há de soçobrar a pouco e pouco)?
Logo logo a livraria e revistaria de minha juventude, das amizades comNaldo Arnold Arnaldo, Dil Santos, Cris Santos, Bel, Kátia e o Nuno taciturno, se tornará um “jamais” de todo esvaído. Uma pena! Mas esse agora é o destino que devemos seguir e, claro, com uma lembrança nostálgica e, ao mesmo tempo silente, das pessoas e das sensações vividas, distantes e extintas, acompanhadas pelo desejo de voltar…
Enfim, uma saudade que já começou a me agoniar!
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