sábado, 17 de maio de 2014

A BELEZA SEGUNDO FELIPE MAGALHÃES


POR LEDA NOVA


Residente e com consultório na cidade de Vitória da Conquista, Dr. Felipe Magalhães é médico, natural de Paramirim, casado com Graziella e pai de 3 filhas, às vésperas da terceira. Especialista e titular pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, formou-se em Salvador no ano de 1995 e fez residência em cirurgia geral e cirurgia plástica em Santos. De formação católica “sem maniqueísmo”, na política se diz esquerda-liberal.


Aprecia lazer sempre com a família e gosta de blues e soul music. No cinema, comédia e ficção científica. Na literatura destaca Jorge Amado, Gabriel García Márques, José Saramago e Carlos Drummond de Andrade (por quem exclama: “é essencial!”). “Meu maior prazer é quando consigo praticar o que considero um dos pilares da medicina — o altruísmo. Meu sonho é uma sociedade sem as desigualdades que vemos hoje. Desencantos? Até agora não! Ainda acredito no ser humano (risos).”

1. LÊDA — No mundo antigo a medicina era tida como ciência divina e cada povo tinha o seu próprio deus protetor. Somente no ano de 460 a.C. o médico grego Hipócrates a entendeu como “a arte da cura pelas mãos”, criando um rígido compromisso ético — que permanece um ícone moral até os dias de hoje.
— Dentro desse contexto histórico e da atual quase tirania pelas formas físicas tidas como perfeitas, qual os juízos de valor que norteiam a cirurgia plástica ?

FELIPE MAGALHÃES — Há mais de 2000 anos, na Índia, transgressões sociais como o adultério eram punidas com mutilações faciais e assim nasceu a cirurgia plástica na tentativa de reparar essas cicatrizes e defeitos. Hoje ela ajuda o paciente a manter-se com uma aparência mais saudável. Isto é completamente ético dentro da medicina. Porém a decisão de se realizar a cirurgia – se vale a pena ou não – é de foro íntimo.
Preconceitos e imposições à parte cabe ao cirurgião plástico buscar que o (a) paciente consiga uma forma ou aparência que seja compatível com sua raça, seu biótipo e comum aos seus pares. A cirurgia plástica é a parte da medicina que dá forma à função.

2. LÊDA.  Alguns estudiosos (inclusive da área médica) atribuem os problemas físicos aos males da alma.
— Qual seu posicionamento sobre esta polêmica questão?

FELIPE MAGALHÃES — O bem-estar físico está incondicionalmente atrelado ao da alma. O atleta mais saudável que esteja passando por um estresse emocional terá um desempenho pífio em uma competição.
Um (a) paciente que está com a “alma doente”, em situações de estresse ou desequilíbrio emocional, deve resolver seu problema antes de tentar uma cirurgia plástica ou qualquer outro tratamento físico, haja vista que o resultado operatório mais perfeito nunca é bastante para restaurar a alma.
Outra circunstância é da paciente que está num casamento que já se esvaiu por diversos motivos — desde a apatia à falta de desejo — e procura um cirurgião plástico na vã esperança de recuperar o que anos de indiferença levaram. Lipoaspiração não salva casamento!

3. LÊDA. “As feias que me perdoem, mas beleza é fundamental” (Vinícius de Moraes).
— Verdade ou pura poesia?

FELIPE MAGALHÃES — Verdade (risos). Mas temos que lembrar que o conceito de beleza é muito mais amplo do que apenas a aparência física. Por vezes é mais bonito (a) o (a) parceiro (a) que seja companheiro (a), apesar das marcas do tempo!
Quantas situações todos nós já passamos? quando uma mulher ou um homem com corpo de modelo nos é tão antipático que até esquecemos sua aparência física?
Todas as pessoas têm sua graça, seu encanto. Se nos livrarmos dos bombardeios dos padrões de beleza a que somos submetidos todos os dias, conseguiremos enxergar.

4. LÊDA. O Prêmio Nobel de Literatura — Gabriel García Márques — em Memória de Minhas Putas Tristes conta a história (belíssima) de um homem de noventa anos que se apaixona por uma prostituta impúbere e com isto descobre um novo enfoque do mundo.
— Existiria assim a possibilidade de se mudar o conceito de senilidade? ou tudo não passaria de mera ficção?

FELIPE MAGALHÃES — Como disse o jornalista quase centenário da história do escritor colombiano:  “A idade não é a que a gente tem, mas a que a gente sente…”  Ele nos mostra as dores e delícias de ser um adolescente senil e como uma paixão pode rejuvenescer muito mais do que todo arsenal  médico. Um personagem “feio, tímido e anacrônico” que comprou todo o amor que já tivera em sua vida inteira de rotina insossa, passa se sentir possível!
No entanto o envelhecer — assim como nascer e morrer — são fases naturais de todo ser vivo. Com o homem não é diferente.

5. LÊDA. No famoso conto de fadas O PATINHO FEIO (Hans Christian Andersen) — o patinho feio é excluído e rejeitado. Sente-se profundamente infeliz até descobir que é um deslumbrante cisne. E foi feliz para sempre!
— Em seu consultório você já atendeu algum patinho feio querendo se transformar num belo e majestoso cisne?

FELIPE MAGALHÃES — Lembro-me bem de uma senhora que trabalhava no hospital onde cursei residência de cirurgia geral. Era uma auxiliar de enfermagem toda rabugenta e triste, que se arrastava pelas enfermarias. Os residentes e estudantes que ali passavam não entendiam o porquê daquele mau humor e naturalmente a hostilizavam. Ela tinha uma aparência envelhecida, face triste, uma pele curtida por algum sofrimento que carregava sozinha como uma cruz de penitência.
Pois bem. Passaram-se alguns anos e eu me encontrava no ambulatório da residência de cirurgia plástica, já no último ano, quando entrou uma senhora elegante, com passos firmes, porém leves, bem vestida em sua simplicidade e com principalmente um sorriso de quem de alguma forma encontrara o fio de Ariadne (que nos faz achar o caminho — e a felicidade). Trazia algo de familiar naquele olhar. Titubeei e disse: “Dona Menina! é a senhora?”  “Sou! Doutor. Eu mesma!”  “Mas a senhora está diferente!!!???”  Ela riu.   “Estou. Né? Doutor?”   “Desculpe a indiscrição, mas a senhora está mais jovem, mais alegre, mais bonita!”   Nova risada. Então ela me explicou que há cerca de seis meses tinha se livrado de um casamento amargurado e de um companheiro alcoólatra.
Dona menina era um cisne!  Só passava por uma situação que lhe colocara como patinho feio. Ela veio só me fazer uma visita. Não operou.

6. LÊDA — A beleza da mulher está na alma ou no corpo?

FELIPE MAGALHÃES — “…. e quando eu chego na cancela da morada, minha Rosinha vem depressa me abraçar. É pequenina, é miudinha, é quase nada, mas não tem outra mais bonita no lugar… “( Luiz Gonzaga).
A beleza da mulher está em se sentir bem em seu meio, ser amada! ser feliz!
A beleza do corpo é relativa. Depende da cultura, da época em que é retratada. Depende da idade da paciente. Depende de muitos parâmetros e olhares.
A beleza da alma provavelmente é mais relativa que a própria beleza física. Depende de conceitos éticos, religiosos, morais, políticos etc. Conceitos difíceis de mensurar.

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