domingo, 30 de março de 2014

SÉTIMA ARTE EM DESTAQUE - WALT NOS BASTIDORES DE MARY POPPINS


POR GABRIEL JOSÉ*

Walt Disney era um visionário. Ao lançar Branca de Neve e os Sete Anões (1937) ele mostrou que era possível fazer um longa de animação lucrativo, contrariando a opinião de muita gente naquela época. Autor de personagens que se tornaram ícones conhecidos em todo o planeta, o pai do Mickey Mouse construiu um verdadeiro império de entretenimento.Por isso, ver um filme onde Disney é um dos personagens é instigante. Em Walt nos Bastidores de Mary Poppins (Saving Mr. Banks, 2013) acompanhamos um dos seus feelings, quando decidiu levar para o cinema o livro de P.L. Travers, Mary Poppins, na década de 60. O filme trata das divergências de ideias nessa adaptação, entre a escritora e a equipe de Walt Disney (Tom Hanks).


Essa relutância é explicada paralelamente à condução da trama, com flashes do passado de P.L. Travers (Emma Thompson). De acordo com o filme, Disney tentava adaptar Mary Poppins há vinte anos como uma promessa para os seus filhos, mas sempre recebia uma negativa por parte da autora. Ela só terminou aceitando levar sua estória para a tela grande por questões econômicas, todavia fez de tudo para travar as ideias apresentadas pelos roteiristas. E por pouco, Mary Poppins não foi para o saco. Foi preciso muita lábia de Walt Disney para, enfim, convencê-la. Isso acontece quando ele passa a entender os motivos de suas discordâncias, ligadas à traumas de infância. Pelo menos é o que o roteiro deixa bem claro. Na conversa decisiva entre os personagens, ele ressalta a importância dos contadores de estórias, da força da imaginação e faz uma ponte da sua vida com a dela, na difícil relação com o pai.


Tenho uma ressalva a fazer: Saving Mr. Banks  o titulo original: ganhou, aqui no Brasil, um título dos mais incorretos: Walt nos Bastidores de Mary Poppins. Além de ser longo demais e não soar nada bem, com ele o público é levado a crer que o protagonista é Walt Disney, e não é. A escolha de Thompson para o papel não poderia ser mais acertada. Tendo interpretado uma espécie de Mary Poppins no filme Nanny McPhee (2005), a atriz já se mostrava identificada com a temática. Como Travers, Thompson está, ao mesmo tempo, insuportável e engraçada. A única pessoa que consegue penetrar na carapaça da escritora é o motorista bonachão Ralph, interpretado com doçura por Paul Giamatti. Ainda que Travers se mostre uma pessoa difícil, suas atitudes acabam sendo explicadas pelas viagens ao passado que o roteiro nos propõe.

Para o espectador aproveitar melhor a experiência de assistir a Walt nos Bastidores de Mary Poppins, é altamente recomendável que tenha o longa-metragem protagonizado por Julie Andrews e Dick Van Dyke fresco na memória, que inclusive já comentei ele aqui , algumas semanas atrás. . Desde a trilha sonora, passando pelas conversas nos “bastidores” e desenhos de produção, tudo remete ao filme de 1964. É divertido ver Novak, Schwartzman e Whitford entoando as canções que seriam imortalizadas pelo elenco de Mary Poppins e observar que algumas das ideias que deram tão certo no filme eram incrivelmente rechaçadas por Pamela Travers. A impressionante mistura entre animação e atores de carne-e-osso, por exemplo, foi motivo de brigas entre a escritora e Walt Disney. Na época, revolucionária, a técnica mostrava como os estúdios Disney eram realmente uma fábrica de sonhos.

Com direito a imagens de Mary Poppins e a utilização de fotos do elenco original, Walt nos Bastidores de Mary Poppins consegue fazer rir e emociona por se debruçar em um dos filmes mais queridos da história dos estúdios Disney. Atores competentes e uma ótima direção de arte, que nos transporta para os anos 60, são a cereja do bolo em uma produção que tem tudo para entreter os fãs da babá britânica voadora.

*Gabriel José é estudante de cinema da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB)

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