POR RAFAEL CARVALHO
(MOVIOLA DIGITAL)
2013 foi um ano muito bom para o cinema brasileiro. Foram pouco mais de 120 filmes nacionais lançados nos cinemas, que venderam mais de 25 milhões de ingressos e renderam uma média de R$ 270 milhões, segundo dados da Agência Nacional do Cinema (Ancine). Nunca antes tanta gente tinha ido aos cinemas assistir a filmes brasileiros. Mas há reais motivos para se comemorar? Digo que em partes.
É inegável que é um bom sinal ter nossos filmes cada vez mais como opção de entretenimento e programação cultural. O grande entrave é que maioria esmagadora desses filmes são produções de porte industrial, comédias de origem televisiva, capitaneadas pela poderosa Globo Filmes, excelente no departamento de marketing, mas fraca no quesito qualidade fílmica, com sua linguagem padronizada, plastificada e rasa. Aliás, grande parte desses números que saltam aos olhos no nosso mercado deve-se ao sucesso desses filmes diante do grande público.
Num outro polo temos uma vívida produção de cinema independente, que necessita imprescindivelmente dos editais do governo para sua produção, penando muito para conseguir finalizar os filmes. São obras que encontram uma dificuldade enorme para serem lançados nos cinemas e permanecerem em cartaz por tempo considerável e com ofertas generosas de horários. Mas são eles que elevam a safra de ótimos filmes que temos tido a cada ano, ganhando espaço entre as mostras e festivais espalhados Brasil a fora.
É o tipo de obra que tem uma grande dificuldade em alcançar o grande público e muitas delas permanecem desconhecidos por muitos. Filmes como O Som ao Redor, Tatuagem, Doméstica (vindos de Pernambuco, que já se tornou um polo riquíssimo de produção independente e de personalidade no Brasil, fora do eixo central Rio-São Paulo), Elena, O que se Move, Morro dos Prazeres, Educação Sentimental, dentre outros trabalhos, são uma mostra da diversidade de nossa produção contemporânea.
Até mesmo o cinema baiano vem vivendo um momento interessante. Depois da Chuva, dirigido pelo casal Cláudio Marques e Marília Hughes, premiado no último Festival de Brasília, deve chegar às telas comerciais agora em 2014. O curta-metragem Jessy tem viajado e angariado prêmios pelos festivais por que passa. E mesmo um projeto aqui da terrinha, A Doce Flauta da Liberdade, dirigido pelo conquistense George Neri, e gravado na cidade de Ituaçu, em fase de finalização, é uma aposta desde já aguardada com interesse.
Falta que os nossos editais de produção sejam mais claros e objetivos no seu processo de seleção, que eles deem valor também à distribuição e exibição dos filmes, que as verbas do governo destinadas à cultura sejam mais bem distribuídas. E também que o público procure e se anime a ver filmes mais interessantes, fora do circuitão, mais arrojados e com proposta mais reflexivas e culturais. Eles estão por aí, basta descobri-los.
* Rafael Carvalho é conquistense. Formado em Comunicação pela Uesb. Tem mestrado e está concluindo doutorado em cinema na UFBa. Crítico e pesquisador da sétima arte.
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